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A única saída para a pandemia está na ciência, dizem pesquisadores


A única saída para a pandemia está na ciência, dizem pesquisadores

Webinar Ciência, Saúde e Políticas Públicas no Brasil reuniu o futuro diretor científico da FAPESP, Luiz Mello (abaixo no vídeo, à esquerda), a pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo (acima, à esquerda) e o pesquisador do Incor Jorge Kalil (abaixo, à direita). O debate foi mediado pelo superintendente da Fundação FHC, Sérgio Fausto

Publicado em 12/05/2021

Agência FAPESP – A pandemia de COVID-19 está exigindo que a ciência brasileira mobilize seu arsenal de conhecimento e de recursos na busca de solução para um desafio até agora inédito. E as respostas têm sido positivas, de acordo com pesquisadores que participaram do webinar Ciência, Saúde e Políticas Públicas no Brasil: quais as iniciativas necessárias no futuro?, promovido pela Fundação Fernando Henrique Cardoso nesta quinta-feira, 23 de abril. O debate foi mediado pelo superintendente da Fundação FHC, Sérgio Fausto.

“Hoje temos um conjunto de cientistas capaz de dar respostas rápidas a desafios da pandemia”, afirmou Luiz Eugênio Mello, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do Instituto D´Or de Pesquisa e Ensino e que na segunda-feira, dia 27, assume a Diretoria Científica da FAPESP. “O apoio da FAPESP à estruturação de redes de pesquisas para o combate a arboviroses como zika, chikungunya e dengue, por exemplo, habilitou pesquisadores de São Paulo para o sequenciamento do vírus SARS-CoV-2 em tempo recorde, de 48 horas.”

“A Fiocruz trabalha dia e noite produzindo testes. E isso é a nossa fortaleza”, disse Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz e membro do grupo de especialistas do Ministério da Saúde para a pandemia causada pelo novo coronavírus.

“A ciência brasileira tem crescido nos últimos anos e com destaque. Com a COVID-19 a reação foi grande, desde o sequenciamento genético do vírus até os testes sorológicos e o desenvolvimento de vacinas”, afirmou Jorge Kalil, professor titular de Imunologia Clínica e Alergia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração.

Eles ressaltaram, no entanto, que a construção dessa competência brasileira para pesquisa não tem sido um processo fácil. “A nossa capacidade de produção e de adaptação vem da adversidade”, ressaltou Dalcolmo. A falta de apoio reduziu a capacidade do país de “reter recursos humanos qualificados”, completou Kalil. “O Brasil vinha melhorando no aporte de recursos para a C&T e para P&D, tendo atingido a ordem de 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas, por razões econômicas e de disponibilidade de recursos, esse percentual caiu, estando agora perto de 1%, enquanto nos Estados Unidos, Europa, Japão e China esse percentual chega até 5% do PIB”, ponderou Mello.

À falta de recursos somam-se os excessos burocráticos. “A burocracia atrapalha e atrasa os testes clínicos”, diz Dalcolmo, citando o exemplo da dificuldade de importação de reagentes. Kalil agregou à lista de problemas a descontinuidade dos financiamento. Deu o exemplo do Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) que, segundo ele, estão há anos sem financiamento. “Aqui em São Paulo recorremos à FAPESP que nos mantêm vivos, mas no plano nacional é complicado."

O fomento é instrumento estratégico para o desenvolvimento da ciência e para a solução de problemas que eclodiram com a pandemia. Mello cita o exemplo das empresas Magnamed e Timpel, que, com o apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP, desenvolveram tecnologia que estão a serviço do tratamento da COVID-19. Os ventiladores pulmonares da Magnamed, adquiridos pelo Ministério da Saúde, equiparão hospitais da rede pública, e os tomógrafos por impedância elétrica da Timpel já estão sendo utilizados em pacientes com a COVID-19 na Espanha e Itália.

Aos investimentos públicos em C&T e P&D, seria necessário que se somassem mais esforços de empresas. “O Brasil compra máscaras da China. É inacreditável que a nossa indústria têxtil não se habilite para produzir esse insumo mais simples”, diz Dalcolmo. “O Brasil também não produz princípios ativos para doenças endêmicas, apesar de ter uma indústria farmacêutica forte. Não há uma visão sanitarista na indústria farmacêutica. Somos dependentes da China e principalmente da Índia.”

A adesão das empresas deveria ser mais incentivada. “Os Estados Unidos têm legislação que fomenta aportes privados com abatimento do Imposto de Renda. Aqui esse estímulo é pequeno”, salientou Mello.

Outro grande desafio é o da educação. “Essa pandemia mostrou de forma cruel a falha estrutural de educação. As cenas horrorosas que temos visto poderiam ser evitadas se as pessoas não estivessem emprenhadas por bobagens. Sem educação não há como formular um pensamento científico e está aberto o espaço para propostas equivocadas”, diz Dalcolmo.

“O Brasil tem deficiências estruturais na educação. Há iniciativas em curso, mas a porcentagem de pessoas alfabetizadas, de 92% da população, é igual ao percentual de alfabetização dos Estados Unidos em 1910”, diz Mello. Essa situação se reflete no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), que coloca os estudantes brasileiros entre os últimos no que diz respeito à qualificação para a ciência.

A única saída para a pandemia, todos concordam, está na ciência. “Mas a ciência obedece a protocolos que devem ser seguidos, a solução não aparece da noite para o dia. A sociedade já reconhece que a ciência é importante. Os governantes têm que saber que isso exige investimento de longo prazo e que se trata de uma questão de segurança nacional. A ciência é fundamental para a soberania”, sublinhou Mello.

Fonte: https://agencia.fapesp.br/33030