Evento promovido pelo Programa BIOTA-FAPESP e pelo SinBiose reuniu pesquisadores dos Estados Unidos e do Canadá para promover a troca de experiências e ajudar a implementar a ciência de síntese no Brasil (imagem: reprodução)
Publicado em 06/10/2021
André Julião | Agência FAPESP – Tornar a ciência mais colaborativa e capaz de trazer soluções para problemas ambientais é um dos principais objetivos dos centros de síntese em biodiversidade e serviços ecossistêmicos. Tendo em vista os desafios e o potencial desse tipo de pesquisa para o Brasil, o Programa BIOTA-FAPESP e o Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose) reuniram diretores de instituições correlatas nos Estados Unidos e no Canadá para possibilitar a troca de experiências na área. O evento, realizado na segunda-feira (04/10), está disponível no YouTube.
“A FAPESP criou, mais de 20 anos atrás, o Programa BIOTA, que tem sido uma iniciativa muito bem-sucedida em direção ao melhor entendimento de como a biodiversidade é distribuída não apenas no Estado de São Paulo, mas também no Brasil e no globo. Essa iniciativa de ciência de síntese pode não ser nova no mundo, mas é completamente nova para nós brasileiros e temos muito a aprender”, disse Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP, durante a abertura do evento.
O objetivo dos centros de síntese é integrar dados de pesquisa espalhados por diferentes centros, a fim de avançar o conhecimento científico e procurar resolver problemas da sociedade, por meio de iniciativas junto a comunidades e órgãos governamentais (leia mais em: agencia.fapesp.br/28830).
Para Evaldo Vilela, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência responsável pelo SinBiose, primeiro centro do tipo em região tropical, aproximar a ciência da tomada de decisão é uma lacuna que precisa ser preenchida. E a ciência de síntese é um caminho promissor nesse sentido.
“Essa é uma grande oportunidade de trazer para a comunidade científica brasileira a discussão sobre ciência de síntese e seus impactos na academia e na sociedade. Essas são conversas muito importantes no contexto do avanço das fronteiras da ciência e para aproximar ciência e tomada de decisão. É uma lacuna crucial que o SinBiose propõe preencher na área de biodiversidade e serviços ecossistêmicos”, disse.
Uma chamada para reuniões científicas de grupos de síntese está aberta até 10 de dezembro, numa parceria BIOTA-FAPESP com o Centre for the Synthesis and Analysis of Biodiversity (CESAB), o SinBiose e o Centro de Estudos da Biodiversidade da Amazônia (Labex CEBA) (leia mais em: agencia.fapesp.br/35876).
Grupos de trabalho
Diane Srivastava, diretora do Canadian Institute for Ecology and Evolution (CIEE) e professora da Universidade de British Columbia, falou sobre os grupos de trabalho como ferramenta para compreender problemas a serem resolvidos e como abordá-los nos centros de síntese.
“Um grupo de trabalho em ciência é simplesmente um grupo de pessoas que se encontra e tem diversas habilidades, conhecimentos e trabalha de forma colaborativa, seja com dados ou com ideias para fazer avançar a ciência. Os elementos-chave são vários, entre eles, a sinergia. Então fazemos isso ao trazer diferentes conhecimentos e habilidades. No trabalho de síntese, estamos ainda integrando e sintetizando dados e conhecimentos existentes e a questão que estamos tentando responder é sempre muito importante”, explicou.
Entre os trabalhos sendo realizados pelo CIEE está um programa que visa recuperar a população de peixes comerciais na costa de Newfoundland, no leste do Canadá. Caso seja bem-sucedida, a iniciativa pode reerguer a economia local, abalada com a escassez do bacalhau.
O objetivo primordial dos centros de síntese não é necessariamente publicar artigos, mas encontrar soluções para problemas de cidades, bacias hidrográficas e comunidades. Ainda assim, Ben Halper, diretor do National Center for Ecological Analysis and Synthesis (NCEAS) e professor na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, nos Estados Unidos, apresentou um levantamento mostrando que os artigos produzidos por centros de síntese têm índices de citação até cinco vezes mais altos do que os de outros grupos.
“Estamos tendo uma grande influência nesse campo de atuação. Podemos ver que artigos advindos de centros de síntese com frequência lançam novas áreas de pesquisa. Temos também exemplos de trabalhos que mudam a trajetória de uma área. Outros exemplos, ainda, mostram como a síntese ajuda a responder questões que têm sido debatidas há muito tempo”, contou.
Para o mediador do evento, Jean Paul Metzger, membro da coordenação do Programa BIOTA-FAPESP e professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), a reunião traz ainda reflexões sobre como contribuir para a transformação sustentável e para o treinamento das novas gerações de pesquisadores, promovendo uma forma mais colaborativa de fazer ciência. “Todos esses tópicos são particularmente relevantes para serem discutidos no contexto brasileiro”, afirmou.
“Todo conselho que pudermos ter é muito estimulante e nos deixa mais próximos de nosso principal objetivo, que é ter esse tipo de pesquisa estabelecido no país”, afirmou Carlos Alfredo Joly, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que também integra a coordenação do Programa BIOTA-FAPESP.
A chamada para reuniões científicas de grupos de síntese está disponível em: https://fapesp.br/14906. O evento pode ser visto na íntegra em: https://youtu.be/xWUnn6XeIis.