Projeto de inovação social, desenvolvido no conjunto habitacional Quilombo (foto), em Campinas, foi aprovado na segunda chamada FAPESP e Trans-Atlantic Platform ( crédito: acervo da pesquisadora Doris Catharine Cornelie Knatz Kowaltowski/Unicamp)
Publicado em 21/04/2021
Agência FAPESP – A FAPESP lançou a terceira chamada internacional em conjunto com a Plataforma Transatlântica para Ciências Humanas e Sociais (Trans-Atlantic Platform in Social Sciences and Humanities – T-AP). O objetivo é alavancar pesquisas em colaboração nas áreas de Ciênciaz Humanas e Sociais, com foco na pandemia de COVID-19 – mais especificamente, na mitigação de seus impactos sociais e na perspectiva de recuperação pós-pandemia.
Intitulada “Recovery, Renewal and Resilience in a Post-Pandemic World (RRR)”, a chamada envolve 15 agências de fomento – a maioria delas com acordos bilaterais de cooperação com a FAPESP – de 12 países.
As propostas a serem submetidas devem ser elaboradas por pesquisadores principais de pelo menos três países diferentes, dos dois lados do Atlântico, e os projetos devem resultar de colaborações transnacionais e interdisciplinares capazes de enriquecer a perspectiva e os insights dos estudos.
“Constituída por agências de fomento das Américas e Europa, entre elas a FAPESP, a T-AP é uma iniciativa importante para alavancar a cooperação internacional das pesquisas em Ciências Humanas e Sociais apoiadas pela Fundação”, diz Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP.
Mello sublinha que, neste edital, serão selecionados projetos que levem em conta, entre outros, os impactos econômico, social, político, educacional, sanitário, ambiental e cultural da pandemia de COVID-19, “contribuindo para um futuro mais equânime, resiliente e sustentável”.
Os projetos em cooperação deverão desenvolver um ou mais temas, em torno de cinco pontos considerados principais: a redução de desigualdades e vulnerabilidades; a construção de uma sociedade mais resiliente, inclusiva e sustentável; incentivo à governança democrática e participação política; inovação digital e responsável; e efetividade e acurácia em comunicação e mídia.
Até 14 de junho, o pesquisador do Estado de São Paulo deve obrigatoriamente realizar uma consulta de elegibilidade à FAPESP. Dentro deste mesmo prazo, o pesquisador líder da proposta multinacional deve preencher um formulário on-line de Intenção de Participação (Intent to Submit), disponível em https://fapesp.br/calls/tap-its e realizar um cadastro.
A proposta final deve ser submetida por meio do SAGe até 12 de julho de 2021.
Como um dos membros do secretariado da chamada, a FAPESP será responsável por receber e gerenciar os procedimentos e a análise das propostas internacionais submetidas pelo SAGe.
Os projetos podem ter duração de até 36 meses. Na FAPESP, os projetos serão apoiados de acordo com as normas e condições da modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular, com a possibilidade de ser solicitada uma bolsa de pós-doutorado, caso o pesquisador responsável atenda aos requisitos mínimos para esta demanda. O orçamento da parte do projeto apoiado pela FAPESP não pode ultrapassar R$ 150 mil anuais, incluído o valor da bolsa de pós-doutorado, se solicitada.
Orientações para pesquisadores do Estado de São Paulo estão disponíveis em https://fapesp.br/14817.
Nas duas primeiras chamadas em parceria com a T-AP, pesquisadores de áreas de Ciências Humanas e Sociais de São Paulo, em parceria com pesquisadores da Alemanha, Canadá, Holanda, França, Polônia, entre outros, desenvolveram projetos de big data e inovação social.
Inovação social
O projeto "Inovações com foco na percepção de valor de usuários para subsidiar o processo de upgrading de habitação social por meio de Trans-Atlantic Living Labs", por exemplo, foi aprovado na segunda chamada FAPESP e T-AP. Iniciada em janeiro de 2020. A pesquisa é coordenada por Doris Catharine Cornelie Knatz Kowaltowski, da Universidade de Campinas (Unicamp) e tem a participação de Patricia Tzortzopoulos Fazenda, da Universidade de Huddersfield, no Reino Unido, Clarine Joanne van Oel, da Universidade de Delft, nos Países Baixos e de Sigrun Kabisch, da Associação Helmholtz, na Alemanha.
A equipe de pesquisadores utiliza o conceito de living labs para promover colaborações e alinhar percepções de partes envolvidas – companhias habitacionais, moradores, associações, ONGs, entre outras – em intervenções de melhorias de conjuntos habitacionais sociais.
Em cada um dos países que integram o projeto, a liderança e a gestão dos processos de melhoria de habitações sociais são distintas. “Na Europa, a responsabilidade por esse tipo de moradia é das prefeituras ou de associações”, conta Kowaltowski, da Unicamp. No Brasil, a iniciativa de promover reformas é dos moradores, em geral proprietários, que adquiriram o imóvel por meio de programas de financiamento para habitação social.
Sem qualquer orientação, o morador altera a planta do imóvel com auxílio de pedreiros, sem solicitar autorização à prefeitura ou
à entidade gestora da área. “O resultado é que ele acaba, por exemplo, construindo um quarto no fundo da casa, sem janelas e dorme numa alcova”, exemplifica Kowaltowski.
Ela desenvolve seu projeto no conjunto habitacional Quilombo, em Campinas, com cem moradias de famílias de baixa renda. A ideia é envolver a Cohab do município, os usuários, empresas privadas de manutenção ou ONGs. A inovação social a ser promovida pelo projeto estará no aumento da percepção das pessoas sobre o ambiente físico e o bem-estar, na conscientização para a promoção de melhorias que resultem em redução de custos – maior eficiência energética, por exemplo – e no compartilhamento desse aprendizado com moradores vizinhos.
Os projetos desenvolvidos na Europa têm foco semelhante. “As associações, responsáveis pelas modificações nos imóveis, querem que os moradores participem das reformas com engajamento e atitude positiva, já que muitos rejeitam a ideia de que alguém mexa em suas casas”, relata Kowaltowski.
Ela conta que já conhecia as pesquisadoras que integram o projeto. “Já tive uma bolsista BEPE [Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior] em estágio com a Clarine Joanne van Oel, nos Países Baixos.” Quando saiu a chamada T-AP, contatou as outras pesquisadoras e, juntas, submeteram o projeto.
A pandemia de COVID-19 trouxe transtornos, mas não impediu o andamento da pesquisa. As quatro parceiras se encontram virtualmente com frequência e o contato com os moradores do conjunto habitacional Quilombo é feito com recursos do telefone celular. O estudo estará concluído no final de 2022.