Alunos de escolas públicas estaduais, vencedores do concurso Ciência para Todos, apresentam seus projetos a pesquisadores de centros e institutos de pesquisa
Publicado em 12/04/2021
José Tadeu Arantes | Agência FAPESP - Um grupo de alunos da Escola Estadual Ângelo Scarabucci, de Franca (SP), utilizou resíduos das indústrias de calçados para criar um capacete sustentável para a proteção de ciclistas.
Registrado em um vídeo de pouco mais de 6 minutos, gravado com um telefone celular, o projeto ficou com o primeiro lugar no concurso Ciência para Todos, promovido pela Fundação Roberto Marinho/Canal Futura e pela FAPESP, com apoio da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
O prêmio foi uma visita ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas. Além de conhecer Sirius, a nova fonte de luz síncrotron brasileira, os alunos visitaram o Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano) e conheceram pesquisas de reutilização de resíduos.
“Baseado no que vimos aqui, você começa a pensar em como mudar o projeto, rever isso, tirar aquilo, para que ele se torne cada vez melhor”, disse a estudante Naiara Alves, que integra o grupo. A visita foi acompanhada pela equipe do Canal Futura.
Horta hidropônica
O segundo colocado no concurso Ciência para Todos foi o vídeo do grupo de alunos da Escola Estadual Coronel Francisco Schmidt, no município de Pereira Barreto. Eles montaram um criadouro de tilápias de água doce consorciado com uma horta hidropônica. O sistema aproveita as fezes dos peixes como fonte natural de nitrogênio para a adubação das verduras. E se vale do bombeamento elétrico e da gravidade para promover a circulação e a economia da água.
Os estudantes escolheram conhecer o Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano e Células-Tronco, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP, em São Paulo.
Reunidos com Eliana Maria Beluzzo Dessen, coordenadora de Educação e Difusão do Centro, e com pesquisadores, os alunos deram detalhes da pesquisa, que envolveu estudos sobre os ciclos do nitrogênio e do carbono, fotossíntese, relações ecológicas de cooperação entre espécies, pH, gravidade, pressão, energia potencial e cinética – conteúdos do currículo escolar que entraram no projeto.
Contaram que, no meio do trabalho, todas as tilápias morreram devido a uma queda brusca na temperatura ambiente. E aprenderam com os pesquisadores que o risco é inerente à atividade de pesquisa e que a perseverança é uma das principais qualidades do cientista.
Os estudantes creditam o sucesso do trabalho à coordenação da professora Elda de Aguiar Gama Mortinho e apoio de comerciantes locais que forneceram material para o desenvolvimento do projeto.
“A gente não teve férias de julho, mas valeu a pena, porque a meta desse projeto é ajudar muito mais pessoas. Ele tem uma economia de água e, hoje, nesta crise hídrica, isso vai beneficiar muitas comunidades”, comentou a estudante Luana Assumpção Santos. A visita também foi acompanhada pela equipe do Canal Futura.
Ciência x fake news
Os alunos da Escola Benedita Pinto Ferreira, de Caraguatatuba, terceiro colocados no concurso com um vídeo sobre a violência doméstica e o feminicídio, também conheceram o CNPEM, em Campinas.
A visita “empolgou” os alunos, afirmou o professor José Iraedson de Oliveira, que acompanhou o grupo. “Isso ajuda a educação e nós, educadores, necessitamos de eventos como esses”. Veja o vídeo realizado pela equipe do Canal Futura.
O vídeo produzido pelos alunos da escola Escola Estadual Zilda Prado Paulovich, de Nova Independência, quarto colocado no concurso, trata de um tema mais conceitual: “A concepção dos adolescentes sobre ciência: conhecimento científico ou senso comum?”. Por meio de um questionário distribuído a 106 colegas das três séries do ensino médio, eles avaliaram o conhecimento da turma sobre diferentes assuntos – da evolução dos seres vivos ao aquecimento global – e as fontes de informação utilizadas.
Em visita ao Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano e Células-Tronco eles deram detalhes do projeto. Na primeira rodada de avaliação, constataram, por exemplo, que apenas os alunos do 3º ano do ensino médio tinham informações sobre a origem da vida e que, em média, metade dos alunos usava como fonte de consulta o Google, o YouTube e as redes sociais.
Depois de uma “intervenção” da equipe responsável pela pesquisa, o quadro mudou. A principal fonte de consulta passou a ser o Google Acadêmico e o percentual de alunos com informações sobre a origem da vida – em todas as séries – cresceu para até 65%.
“Os temas trabalhados são atuais, mas muitos de nossos colegas não tinham conhecimento científico a respeito e consideravam verdadeiras as fake news divulgadas pelas mídias sociais. A gente mostrou que essas noções não eram verdadeiras e faziam parte do senso comum e não da ciência. A gente precisa do conhecimento científico”, comentou a estudante Rafaela Rodrigues Carmona, uma das integrantes da equipe do projeto. A visita foi acompanhada pela equipe do Canal Futura.
Horta suspensa
O quinto lugar no concurso ficou com os alunos da Escola Estadual de Ensino Médio em Tempo Integral Dr. Coriolano Burgos, de Amparo, e a visita foi aos laboratórios do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, onde foi recebido pelo pesquisador João Marcelo Pereira Alves.
Os estudantes desenvolveram o projeto de uma horta suspensa, plantada em fundos de garrafas PET. E isso se deveu ao fato de o terreno onde está situada a escola ter sido anteriormente um cemitério, portanto impróprio para o plantio devido a possível contaminação do solo pelo necrochorume liberado pelos cadáveres. O projeto, intitulado "Ciência IntegrAção – Cemitério", foi uma solução criativa para o problema.
“Como não podíamos usar a terra, tivemos a ideia de fazer a horta suspensa. Nosso projeto ainda está em expansão. Queremos instalar um sistema de irrigação automático, com a ajuda do pessoal de robótica”, disse a aluna Giovana dos Santos Ferreira. O projeto foi desenvolvido sob a coordenação da professora Tamires Aparecida Bianchi Darioli. Veja o vídeo da equipe do Canal Futura.
Ciência a serviço da comunidade
Os grupos premiados responderam ao desafio de – individualmente ou em grupos de até cinco pessoas – documentar, em vídeos de até 7 minutos, uma proposta de solução para um problema da comunidade ou região, usando métodos e processos que caracterizam a produção de conhecimento científico, com a tutoria de um professor.
O mote para a realização do trabalho foi a série homônima Ciência para Todos, com 52 episódios, produzida em parceria pela FAPESP e a Fundação Roberto Marinho/Canal Futura, que mostra os impactos sociais e econômicos das pesquisas científicas e tecnológicas. Protagonizados por pesquisadores, os episódios da série são transmitidos às segundas-feiras às 20h30 pelo Canal Futura e também estão disponíveis em www.futuraplay.org/serie/ciencia-para-todos.
O júri que avaliou todos os projetos foi composto por representantes do Canal Futura, da Secretaria de Educação e da FAPESP. “Cada integrante do júri avaliou com critério próprio. O representante do Futura se voltou para os vídeos propriamente ditos, considerando se a história estava bem contada e se o produto final estava bem acabado. O representante da Secretaria de Educação estava mais interessado em que os vídeos mostrassem a proposta didática, educacional. Eu me preocupei com o projeto de pesquisa, se havia uma pergunta, uma investigação, alternativas, conclusão”, disse Alexandra Ozorio de Almeida, diretora de redação da revista Pesquisa FAPESP, que representou a FAPESP no júri.
No próximo dia 11 de dezembro, às 20 horas, o programa Conexão do Canal Futura trará uma reportagem sobre as visitas dos alunos a todos os centros de pesquisas. Os vídeos vencedores do concurso serão exibidos no Canal Futura durante o mês de dezembro.
A equipe de reportagem da Agência FAPESP acompanhou as visitas realizadas em São Paulo. Veja o vídeo.