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Cientistas mapeiam comunidades bacterianas em biomas sul-americanos


Cientistas mapeiam comunidades bacterianas em biomas sul-americanos

Trabalho envolveu a análise de 900 amostras coletadas em dez ecorregiões do continente. Resultados deram origem à Base de Dados Georreferenciada de Microbiomas Aquáticos da América do Sul (imagem: divulgação)

Publicado em 04/10/2022

Agência FAPESP* – A Rede Microsudaqua, dedicada à pesquisa em ecologia aquática microbiana, lançou a Base de Dados Georreferenciada de Microbiomas Aquáticos da América do Sul. Inédito, o mapeamento preenche uma lacuna no conhecimento sobre o tema. Embora existam vários estudos do tipo para o hemisfério Norte, a América do Sul, com cerca de um terço da água doce do mundo, ainda é uma das regiões menos estudadas.

O mapeamento foi elaborado a partir do sequenciamento do DNA de bactérias aquáticas presentes em quase 900 amostras coletadas em dez diferentes ecorregiões da América do Sul – dos Andes até as planícies costeiras. A Rede Colaborativa em Ecologia Aquática Microbiana da América Latina (Rede Microsudaqua) tem apoio da FAPESP e reúne pesquisadores de diferentes países. No Brasil, é coordenada por Hugo Sarmento, docente da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Os dados são relevantes para pesquisas futuras sobre os ambientes aquáticos continentais, ou seja, os corpos d´água sobre a superfície de continentes, como os rios e lagos.

“É muito importante a base de dados ser georreferenciada, com cada informação ligada a uma coordenada geográfica. Assim, conseguimos fazer uma classificação dos biomas a partir da microbiota aquática. A partir desses dados da base, podemos ver que grupos de bactérias estão presentes em diferentes tipos de ecossistemas aquáticos e observar esse bioma aquático a partir da composição por microrganismos”, explica Sarmento.

A partir da base, será possível saber não apenas quais microrganismos são dominantes em cada bioma, mas também suas funções ecológicas. Sarmento explica que, em determinados biomas, pode haver mais fixação de oxigênio ou mais fotossíntese, enquanto em outros pode ocorrer mais degradação de compostos que vêm das florestas, por exemplo. “Podemos fazer a análise funcional desses microrganismos nas diferentes ecorregiões.”

Digital bacteriana

Para Sarmento, o resultado de maior destaque é justamente que, a partir das informações da base, é possível caracterizar cada ecorregião, que tem comunidades bacterianas próprias.

“Uma comunidade da Amazônia é diferente da existente nos pampas argentinos, por exemplo. Na prática, se nos fornecem uma amostra e não sabemos qual a sua origem, podemos determinar de onde vem essa amostra analisando a sua comunidade bacteriana. Isso nos mostra que, apesar de as bactérias e outros microrganismos terem grande capacidade de dispersão, existe uma biogeografia de bactérias ou uma microbiota particular de cada bioma. Pudemos identificar isso de forma bem clara nessas regiões demarcadas, como se existisse uma digital bacteriana”, explica.

A base de dados ainda está incompleta. No Brasil, por exemplo, há trabalhos a serem feitos na Caatinga, especialmente nas regiões Norte e Nordeste e, também, no Pantanal e na Amazônia, que são áreas muito extensas. Sarmento explica que, apesar de o trabalho ter sido feito por uma rede latino-americana, nem todos os países estão representados, seja pela ausência de especialistas na área ou por não dominarem as técnicas de sequenciamento de DNA para esse trabalho.

O acesso à base de dados é gratuito e disponível na página da Microsudaqua. A íntegra da base de dados georreferenciada foi publicada também na Nature Scientific Data.

A Rede Colaborativa em Ecologia Microbiana Aquática na América Latina foi fundada em 2017, pela parceria entre Sarmento e grupos do Uruguai e da Argentina. O grupo reúne pesquisadores e estudantes e seus objetivos são fortalecer e ampliar a interação entre cientistas que trabalham na área; contribuir para o desenvolvimento de um senso de comunidade científica regional; além de proporcionar espaço para colaboração de longo prazo em investigação e formação de pessoas.

Dentre outras estratégias, a rede conta com observatórios microbianos, que coletam amostras de água mensalmente em diferentes locais da América do Sul, para acompanhamento dos ecossistemas. Nesse âmbito, a equipe da UFSCar, que tem atuação em todos os grupos de trabalho da Microsudaqua, coleta água do lago do Broa, próximo a São Carlos. Há, também, equipes dedicadas à divulgação científica e a estudos sobre fitoplânctons e sua diversidade funcional.

O artigo A georeferenced rRNA amplicon database of aquatic microbiomes from South America pode ser lido em: www.nature.com/articles/s41597-022-01665-z.

* Com informações da Coordenadoria de Comunicação Social da UFSCar.
 

Fonte: https://agencia.fapesp.br/39742