Fapesp

A FAPESP e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável


Cola biológica ajuda na recuperação do movimento após lesão medular, diz estudo


Cola biológica ajuda na recuperação do movimento após lesão medular, diz estudo

Material derivado do veneno de serpentes e do sangue de búfalos foi usado em cirurgia de reparo feita em camundongos, em associação com fármaco neuroprotetor, resultando na sobrevivência de 70% dos neurônios afetados. Projeto venceu prêmio de inovação em ciências farmacêuticas (foto: Cevap-Unesp)

Publicado em 20/01/2022

Agência FAPESP – Uma pesquisa de doutorado que testou o uso de uma cola biológica no reparo cirúrgico de lesões na medula espinhal foi o vencedor na categoria Masters do Prêmio Pio Corrêa de Inovação em Ciências Farmacêuticas da Biodiversidade Brasileira 2021, promovido pela Academia de Ciências Farmacêuticas do Brasil (ACFB).

Em experimentos com camundongos, o procedimento cirúrgico foi associado ao tratamento com um medicamento neuroprotetor e anti-inflamatório, resultando na sobrevivência de 70% dos neurônios afetados e possibilitando aos animais recuperar 50% do movimento no membro afetado.

O projeto foi desenvolvido por Paula Regina Gelinski Kempe, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Estrutural (BCE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e bolsista da FAPESP.

A pesquisa é orientada pelo professor Alexandre Leite Rodrigues de Oliveira, da Unicamp, e está vinculada ao Projeto Temático “Recuperação sensório-motora após axotomia de raízes medulares: emprego de diferentes abordagens experimentais”.

“Nosso estudo utilizou o biopolímero de fibrina, uma cola biológica derivada do veneno de serpente e de sangue de bubalinos [búfalos], como adjuvante para o reparo cirúrgico de lesões na medula espinhal. O biopolímero de fibrina foi desenvolvido no Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos da Universidade Estadual Paulista em Botucatu [Cevap-Unesp]. Apresenta efeitos neuroprotetores e anti-inflamatórios, permitindo que o reparo da lesão seja mais eficiente, sem a necessidade de suturas”, diz Oliveira à Agência FAPESP.

Segundo o professor, além da cola biológica, o estudo utilizou terapia farmacológica com dimetil fumarato, uma droga já empregada no tratamento de esclerose múltipla e psoríase.

“O dimetil fumarato também apresenta efeitos neuroprotetores e anti-inflamatórios, além de efeitos antioxidantes. Como modelo experimental, a avulsão de raízes motoras em ratos foi utilizada. A avulsão é o arrancamento das raízes nervosas por tração, na interface entre o sistema nervoso central e periférico, interrompendo os comandos motores, gerando paralisia muscular”, explica.

A combinação entre reparo cirúrgico com selante de fibrina e tratamento farmacológico com dimetil fumarato, após três meses da lesão, resultou em sobrevivência neuronal de até 70% dos neurônios motores afetados. Houve importante preservação dos contatos entre esses neurônios (sinapses), diminuição da inflamação tecidual e recuperação de até 50% dos movimentos do membro afetado.

“Tais resultados são promissores e fazem acreditar numa aplicação clínica viável no futuro, melhorando a qualidade de vida dos pacientes, com maior autonomia e produtividade”, afirma Oliveira.

A perda de movimento de membros pode ocorrer após acidentes que causam danos na medula espinhal ou em nervos periféricos, como quedas de moto, atropelamentos, acidentes automobilísticos, quedas e mergulhos em águas rasas. Os sintomas decorrentes da lesão medular se devem à morte neuronal, bem como à desconexão do sistema nervoso central com os músculos, além de grande inflamação local, que gera dor intensa.

Atualmente são limitadas as cirurgias de reparo desse tipo de lesão e tratamentos farmacológicos paliativos são usados para reduzir a dor. No entanto, ainda não existem métodos que promovam melhora tanto em nível celular quanto funcional, levando à perda de qualidade de vida dos indivíduos afetados.

O Prêmio Pio Corrêa de Inovação em Ciências Farmacêuticas da Biodiversidade Brasileira foi instituído pela ACFB com a finalidade de reconhecer publicamente e estimular profissionais que atuam no Brasil nas diversas áreas das ciências farmacêuticas relacionadas à biodiversidade brasileira.
 

Fonte: https://agencia.fapesp.br/37768