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Conversão de 5% das pastagens em plantações poderia dobrar produção de biocombustíveis, aponta estudo


Conversão de 5% das pastagens em plantações poderia dobrar produção de biocombustíveis, aponta estudo

Dados se referem a Brasil, Argentina, Colômbia e Guatemala e foram apresentados pelo programa BIOEN-FAPESP durante seminário promovido pela Agência Internacional de Energia (Foto: Voggacom/Pixabay)

Publicado em 29/05/2023

André Julião | Agência FAPESP – A produção de biocombustíveis no Brasil, Argentina, Colômbia e Guatemala é energeticamente sustentável e contribui para reduções significativas em emissões de gases do efeito estufa. Além disso, se algo em torno de 5% das terras usadas em pastagens fossem convertidas em plantações de cana-de-açúcar e outras biomassas, a produção de biocombustíveis nesses países poderia dobrar. Essas são algumas das conclusões do estudo “Biofuels in Emerging Markets: Potential for sustainable production and consumption”, produzido pelo Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) como parte das suas atividades em cooperação com a Força-Tarefa de Descarbonização do Transporte da Agência Internacional de Energia (IEA).

Os dados foram apresentados durante seminário on-line promovido pelo programa IEA Bioenergy e pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido), ocorrido nos dias 22 e 23 de maio. “Avaliamos as opções para o aumento da produção de biocombustíveis em mercados emergentes da América Latina e identificamos que a conversão de pequenas áreas de pastagens, entre 0,1% e 10%, poderia ser suficiente para dobrar a produção de biocombustíveis. Esse aumento na produção é bem-vindo, uma vez que a demanda também é alta”, afirmou Glaucia Mendes Souza, professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP) e membro da coordenação do BIOEN, durante a apresentação.

Além disso, se os créditos de carbono de 1 tonelada de emissões de dióxido de carbono evitadas fossem vendidos a US$ 10, por exemplo, produtores de biocombustíveis da América Latina poderiam adicionar US$ 600 milhões por ano aos seus lucros, valor baseado na produção desses países de 2019. “Isso poderia estimular inovação e novos usos para a biomassa”, contou a pesquisadora.

O estudo mostra ainda que políticas públicas voltadas a uma economia de baixo carbono deveriam ser consideradas para estimular a produção de biocombustíveis e recompensar o esforço atual alcançado por essa fonte energética, que está reduzindo 63,8 milhões de toneladas de carbono equivalente por ano nos quatro países do estudo. Tanto o etanol quanto o biodiesel, aponta o trabalho, são economicamente viáveis, mesmo que altamente sensíveis aos preços das matérias-primas.

Recomendações

O documento ressalta que uma produtividade maior tem alto impacto nas emissões e pode aliviar a demanda por terra. Por isso, pesquisas voltadas à intensificação da produção e à redução das emissões devem ser estimuladas, recomendam os autores. A diversificação do portfólio e novos modelos de negócio no setor sucroalcooleiro e de outros biocombustíveis (biogás, captura e uso de carbono, bioprodutos) podem ainda estimular inovação e robustez econômica, aponta o documento.

Os autores lembram que as plantas de produção de etanol poderiam estar exportando 25,9 terawatts de eletricidade à rede, mas investimentos para aumentar a eficiência energética devem ser considerados. Essas unidades, que realizam a chamada cogeração, poderiam aumentar o uso da palha da cana e de variedades desenvolvidas para a geração de energia, a fim de elevar a eficiência, os lucros e reduzir as emissões. Por fim, o estudo sugere que o hidrogênio verde produzido a partir do etanol pode ser uma alternativa interessante à eletrificação dos veículos, usando a estrutura de reabastecimento já existente.

A programação completa e as apresentações podem ser acessadas no site do evento: https://www.ieabioenergy.com/blog/ieaevent/ws29-opportunities-of-bioenergy-and-biofuels-in-developing-economies/. A sessão em que o estudo foi apresentada também está disponível on-line: https://www.youtube.com/watch?v=xM8DQH_5IFw.

Fonte: https://agencia.fapesp.br/41503