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COP30 terá de ser a mais importante de todas as conferências do clima, diz Carlos Nobre


COP30 terá de ser a mais importante de todas as conferências do clima, diz Carlos Nobre

Nobre: "Todos os países, ainda que os Estados Unidos não estejam dentro, têm de acelerar muito a redução das emissões" (foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP)

Publicado em 04/11/2025

COP30

Elton Alisson | Agência FAPESP – A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), entre 10 e 21 de novembro em Belém, no Pará, terá de ser a mais importante de todas as edições do evento em termos de avanços em ações efetivas para combater as mudanças climáticas, afirma Carlos Nobre, um dos mais respeitados cientistas climáticos do mundo.

Pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) e copresidente do Painel Científico para a Amazônia, Nobre concedeu uma entrevista para a Agência FAPESP em que sublinhou a necessidade de todos os países reduzirem suas emissões de gases de efeito estufa a fim de mitigar os riscos de um aumento do aquecimento global acima de 2 °C até 2050.

“Se chegarmos a 2050 com 2 °C ou, até pior, 2,5 °C de aquecimento, vamos disparar vários pontos de não retorno”, estimou o cientista, alertando que, nesse cenário, a Amazônia deixaria de funcionar como floresta e passaria a emitir mais carbono do que absorve.

Primeiro coordenador científico do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA), Nobre avalia que a iniciativa representou o maior projeto científico em floresta tropical no mundo e inaugurou uma era de implantação de grandes experimentos e infraestruturas de pesquisa multiusuários na floresta amazônica.

Agência FAPESP – Qual sua expectativa em relação à COP30?
Carlos Nobre – Não tenho dúvida de que essa terá de ser a mais importante das 30 COPs. Sem dúvida, a mais importante [até agora] foi a que aconteceu em 2015, a COP21, em Paris. Foi a primeira vez que todos os países apresentaram as suas metas voluntárias de redução das emissões, em inglês NDCs, de Nationally Determined Contributions. Em 2015 foi dito: “Não podemos, de jeito nenhum, deixar a temperatura global passar de 1 °C até idealmente 1,5 °C, mas não 2 °C”. E todos os países se comprometeram a reduzir em 70% as emissões até 2050 e zerar as emissões até 2100. Mas aí um belíssimo relatório especial do IPCC, de 2018, mostrou que se passasse de 1,5 °C de aumento da temperatura representaria um enorme risco do que nós chamamos de pontos de não retorno. E o que ficou muito famoso ali, até porque os oceanos já estavam ficando mais quentes, era a extinção de recifes de corais. E mostrou que, se a temperatura passar de 1,5 °C e chegar a 2 °C, no próximo século a extinção atingirá mais de 99% das espécies de recifes de corais, que mantêm 25% da biodiversidade oceânica. A COP26, em 2021, em Glasgow, na Escócia, foi a segunda mais importante porque todos os países concordaram em não deixar a temperatura passar de 1,5 °C. Para isso, a ciência mostrava ser preciso reduzir 43% das emissões até 2030 em relação às emissões de 2019 e zerar o saldo de emissões líquidas até 2050. Mas, até o ano passado, não estávamos indo nessa direção. As emissões mais altas foram em 2024. Este ano não se sabe se elas vão pelo menos estabilizar. No primeiro semestre ainda continuaram altas e temos de esperar terminar o ano, mas parece muito difícil reduzir 43% as emissões até 2030. Estudos mostram que, com as metas que todos os países colocaram em suas NDCs – e, na verdade, esses estudos foram feitos antes desse presidente americano ser eleito –, reduziríamos até uns 3% em 2030 das emissões, e não 43%. Aí o risco de passarmos de 2 °C em 2050 até chegar a 2,5 °C é altíssimo. Portanto, na minha opinião, a COP30, mesmo sem a presença dos Estados Unidos – que de 1850 até o presente é o que mais emitiu, com 20% de todas as emissões de gás de efeito estufa, e hoje são o segundo, atrás da China, que é o primeiro –, tem que ser, assim como foi a COP21, com o Acordo de Paris, e depois a COP26, a COP mais importante. Todos os países, ainda que os Estados Unidos não estejam dentro, têm de acelerar demais a redução das emissões. É um enorme desafio. A China colocou pequenas metas de redução até 2035. Precisa acelerar demais. Hoje é o país que mais emite, junto com a Índia. Já os Estados Unidos têm de esperar que o próximo presidente mude essa política. No primeiro governo deste presidente, de 2017 até 2020, as emissões aumentaram e é praticamente certo que este ano vai aumentar também, quase certamente todos os outros três anos também.

Agência FAPESP – E quais são os riscos? 
Nobre – Se chegarmos em 2050 com 2 °C ou, até pior, 2,5 °C de aquecimento, vamos disparar vários pontos de não retorno. A ciência hoje já conhece mais de 20 pontos de não retorno. Até o próximo século haverá uma grande extinção dos recifes de corais e inúmeras espécies oceânicas, mas também espécies dos continentes. Já há muitas extinções de espécies na Amazônia. Se a temperatura passar de 2 °C de aquecimento, nós vamos fazer com que descongele o solo congelado da Sibéria, norte do Canadá e norte do Alasca, o chamado permafrost, que congelou há milhões e milhões e milhões de anos e represou uma quantidade gigantesca de gás de efeito estufa, como o metano, que é 28 a 30 vezes mais poderoso para reter o calor em comparação com o gás carbônico. E já começou a descongelar. Até 2100, mais de 200 bilhões de toneladas desses gases do permafrost vão ser lançados na atmosfera. Nós vamos acelerar demais o derretimento do manto de gelo na Groenlândia. Isso vai aumentar muito o nível do mar e também de parte da Antártica Ocidental. Vamos praticamente derreter o gelo do mar Ártico e ali do oceano do lado da Antártica. E vamos perder a Amazônia. Então a COP30 tem de ser tão importante quanto foi a COP21, com o Acordo de Paris, depois a COP26.

Agência FAPESP – A saída está num novo acordo? 
Nobre – Todos os países têm que concordar em acelerar muito a redução das emissões e ao mesmo tempo, como foi colocado na COP29. O embaixador André Corrêa do Lago já falou que vai levar essa questão para a COP30, que é a necessidade da aprovação do fundo verde para o clima. Era um fundo muito pequeno, com US$ 100 bilhões e até 2025. De 2026 a 2035, um estudo lançado na COP29 no Azerbaijão mostrou que esse número tinha de ser de US$ 1,3 trilhão, sendo cerca de US$ 800 bilhões por ano até 2035 para dar uma superacelerada na transição energética. Energia renovável é totalmente factível. Solar e eólica já são muito mais baratas. A maior causa de poluição urbana do mundo é a queima de combustíveis fósseis, carvão, petróleo, diesel. Isso leva a 6 a 7 milhões de mortes por ano devido à poluição urbana. Na cidade de São Paulo, o professor Paulo Saldiva, da USP, há décadas faz estudos e já mapeou a expectativa de vida do paulistano e da região metropolitana toda de São Paulo, que é dois a quatro anos menor por causa da poluição. Então, essas energias renováveis vão melhorar a qualidade do ar e diminuir muito as emissões. Assim, é preciso US$ 800 bilhões por ano até 2035 para melhorar muito a capacidade de adaptação, de aumentar a resiliência. Nós temos mais de 2 bilhões de habitantes do mundo totalmente vulneráveis a esses eventos extremos, às ondas de calor, às secas, aos incêndios florestais, às superchuvas e inundações, alagamentos, deslizamentos na costa. Então é preciso mais uns US$ 500 bilhões por ano para melhorar demais a capacidade de adaptação.

Agência FAPESP – Há riscos para o Brasil? 
Nobre – Aqui no Brasil nós temos milhões e milhões de brasileiros que moram em áreas de risco de chuvas intensas, como aconteceu no Rio Grande do Sul no ano passado. Um estudo recente do comitê de ciência e tecnologia de adaptação lá no Rio Grande do Sul já calculou que há mais de 500 mil pessoas hoje morando em áreas de risco de alagamento, inundação e deslizamentos na costa. No Brasil esse número certamente é mais do que 4 milhões. O Cemaden [Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais] está fazendo um estudo agora, e fez um em 2018, que apontou que há mais de 2 milhões de brasileiros em altíssimo risco. Isso não pode continuar. Só para dar um número ali de quanto dinheiro é preciso para tirar essas pessoas dessas áreas de risco. E o evento extremo que mais causa mortes não são as chuvas intensas, mas as ondas de calor, que causam muito, muito, muito mais mortes. Estudos começam a indicar mais de 500 mil mortes por ano em todo o mundo. Aqui no Brasil também há um grande número de mortes. Tivemos um recorde de ondas de calor em 2023, mas principalmente 2024 e no começo de 2025. Então, a adaptação às ondas de calor é bastante complexa. Por exemplo, uma cidade como Barcelona, depois da onda de calor de 2022 e 2023, criou um monte de locais com piscina, ar condicionado, médicos, e todas as pessoas idosas, bebês, pessoas doentes são mapeadas. E quando a previsão meteorológica prevê uma onda de calor muito forte, essas pessoas são convidadas a ficar lá dias e dias até o fim da onda de calor. Essa é uma forma de adaptação. Outra adaptação muito importante é a restauração florestal urbana. Quando se plantam muitas árvores, você diminui a temperatura máxima até alguns graus, por exemplo, na Grande São Paulo – ou até mais de 5 °C. A restauração florestal também remove 20% a 30% dos poluentes, mantém aquele clima embaixo das árvores muito mais saudável. A cidade mais verde do mundo é Singapura. Todo mundo cultiva plantas no telhado, no topo de todos os edifícios, nas sacadas. Isso baixa bastante a temperatura. Nós não temos esse hábito no Brasil.

Agência FAPESP – O senhor foi o primeiro coordenador científico do LBA. Como surgiu a iniciativa de criar e implementar o experimento?
Nobre – Estive desde o início do que depois tornou-se o Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia, ao qual demos o nome de experimento LBA. A primeira reunião em que começamos a falar sobre a importância de termos um experimento de grande escala na Amazônia foi em novembro de 1993. Eu tinha passado um ano na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, e conheci vários pesquisadores – incluindo o [Piers] Sellers [1955-2016], que trabalhava na Nasa [a agência espacial norte-americana] e chegou a ser astronauta –, além do professor [Jagadish] Shukla. Eu também já vinha fazendo muita parceria com o Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido, localizado na cidade de Wallingford [na Inglaterra]. E nessa pesquisa de hidrologia já tínhamos colocado instrumentos para medir como a floresta e a pastagem interagem com a atmosfera. Começamos esse experimento com duas torres, sendo uma na floresta e outra em área de pastagem. A primeira foi instalada em 1990, um pouquinho ao norte de Manaus, e a segunda no sul do Pará, em Marabá. No mesmo ano, foi instalada uma terceira torre, em Rondônia. E em uma reunião na Nasa, em novembro de 1993, nós reunimos essas pessoas e falamos: "Temos que criar um experimento de grande escala para a Amazônia". A partir de 1994 começamos a discutir isso, reunindo cientistas da Amazônia – de vários países amazônicos –, além dos Estados Unidos e de seis países europeus. Depois fizemos uma reunião em São José dos Campos, em agosto de 1996, e aprovamos uma proposta completa. Em agosto de 1998, começamos a montar todo o experimento e ele começou a funcionar, de fato, em janeiro de 1999. E aí rapidamente fomos colocando uma série de locais de medição. Em parceria com os britânicos, já tínhamos três locais com torres com uma série de instrumentos que mediam como a floresta troca calor, vapor d’água e gás carbônico, e fazíamos isso do topo da floresta até o solo e as pastagens. Em menos de dois anos já tínhamos 25 locais com torres, inclusive alguns no Cerrado. Também fizemos várias parcerias com aviões de pesquisa dos Estados Unidos, de instituições como a própria Nasa e a NOAA [a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, uma agência científica ligada ao Departamento de Comércio dos Estados Unidos], além da Grã-Bretanha e do Inpe. Esses aviões foram fazendo uma série de medidas, cobrindo toda a floresta amazônica.  Um pouco ao norte de Belém, perto do oceano, foi colocado um experimento em que foi bloqueada a maior parte da água da chuva para avaliar quantas árvores não sobreviveriam se o clima da Amazônia mudasse, porque eu havia publicado em 1990 e 1991 os dois primeiros artigos em que usei o nome de “savanização” da Amazônia. Se tivesse muito desmatamento, nós passaríamos do ponto de não retorno. Grande parte da Amazônia ficaria savanizada, com poucas árvores. Então, o experimento era para verificar quais árvores sobreviveriam, e esse estudo existe até hoje, envolvendo muitos países. Foi o maior experimento de floresta tropical feito naquela época e continua até hoje. Lógico que hoje diminuíram muito os pontos de medição, mas o experimento continua. 

Agência FAPESP – O LBA já apontava ponto de não retorno? 
Nobre  Na época em que eu trabalhava no Ministério da Ciência e Tecnologia, entre 2011 e 2014, onde fui secretário [nacional de políticas de pesquisa e desenvolvimento], trabalhamos bastante para conseguir a aprovação de uma parceria com a Alemanha, com o Instituto Max Planck, e foi construída uma torre de 325 metros de altura ao norte de Manaus [o Observatório de Torre Alta da Amazônia, ATTO], que existe até hoje. É uma torre que está permitindo inúmeros bons experimentos sobre o que está acontecendo na Amazônia em uma escala grandiosa porque o vento que vem de milhares de quilômetros passa por ali e eles medem todos os compostos químicos e tudo para saber o que está acontecendo, se a Amazônia está muito próxima de um ponto de não retorno. E o experimento LBA foi o que mais mostrou isso, porque várias pesquisas do experimento mostraram que em toda a região sul da Amazônia, do Atlântico até a Bolívia, passando pela planície na Colômbia e no Peru, a estação seca já está quatro a cinco semanas mais longa do que era há 40, 45 anos. É uma semana por década. Luciana Gatti, do Inpe, começou a fazer medidas entre 2008 e 2009  em toda a Amazônia em quatro pontos da floresta: sudeste, nordeste, noroeste e sudoeste. Ela utilizou dados de instrumentos e de aviões que voavam até vários quilômetros de altura para medir os gases de efeito estufa, o gás carbônico e também o monóxido de carbono. E esse experimento mostrou uma coisa muito preocupante. O primeiro artigo, publicado na revista Nature, em 2021, mostrou que no sudeste da Amazônia, sul do Pará e norte de Mato Grosso a floresta já virou fonte de carbono. Globalmente, todos os biomas do mundo removem gás carbônico. Nós jogamos atualmente quase 40 bilhões de toneladas de gás carbônico por ano, mas também tem desmatamento, e a floresta sempre removeu um terço do que nós jogamos, senão a temperatura já teria passado de 2 °C de aquecimento há muito tempo. Na década de 1990, a Amazônia removia até 1,5 bilhão de toneladas por ano. Diminuiu demais. A Amazônia perdeu essa capacidade, remove muito menos, algumas centenas de milhões de toneladas hoje, e naquele lugar, ou seja, o sudeste da Amazônia, sul do Pará e norte de Mato Grosso, a floresta desde 2010 virou fonte de carbono, ou seja, a floresta perde carbono. Outros estudos do experimento LBA também mostraram um enorme aumento da mortalidade de árvores em grande parte da Amazônia. Então, o LBA foi o que, de certo modo, mostrou que nós estamos muito próximos do ponto de não retorno.  Por meio do experimento também foi possível formar mais de 1.500 mestres e doutores em todos os países amazônicos, além de fora da Amazônia, nos Estados Unidos e países europeus, e também publicar mais de 2.500 artigos científicos.

Agência FAPESP – Então, o LBA de certa forma inaugurou uma fase de grandes experimentos e infraestruturas de pesquisa multiusuários sobre a Amazônia?
Nobre – Sem dúvida. É lógico que o LBA foi criado muito para entender o risco que a Amazônia tinha e tem de passar do ponto de não retorno, mas ele foi muito complementar [em relação a outras questões]. Ele foi olhar muito como o aquecimento global, o desmatamento e a degradação afetam a biodiversidade, tanto a terrestre como a fluvial. A Amazônia recicla muito bem a água. Mais ou menos 45% de todo o vapor d’água que entra do oceano Atlântico para a bacia amazônica não volta pelo rio Amazonas para o Atlântico. Ele sai para o sul um pouquinho, vai para os Andes. Grande parte vem para o sul e explica grande parte da chuva do Cerrado, além de 15% da chuva do Sudeste, bastante da chuva do Sul, Uruguai, Paraguai, norte da Argentina e a manutenção da Mata Atlântica. Então são serviços ecossistêmicos, resultados de uma evolução de dezenas de milhões de anos, e que são muito importantes. O experimento LBA olhou tudo isso e, mais recentemente, a torre ATTO mostrou uma importância muito grande da floresta como um todo, a perturbação que o desmatamento, as queimadas e a degradação estão fazendo, e quão eficiente é a floresta para reciclar água. E o Amazon Face vai dizer se, ao continuarmos jogando esses gases na atmosfera, nós vamos chegar a 560 partes por milhão antes de 2100. Aí a floresta vai fazer um papel de ajudar muito a combater removendo bastante gás carbônico ou não? Os problemas de nutrientes no solo não vão deixar a floresta ser muito eficiente?

Agência FAPESP – Os impactos dos cortes de recursos dos Estados Unidos para a ciência já têm sido sentidos nessas colaborações com o Brasil em ciências climáticas?
Nobre – Os parceiros do experimento LBA já estão sentindo o custo da quebra de orçamento que várias universidades e instituições tiveram. Os Estados Unidos foram o país que mais colaborou cientificamente e também com o apoio financeiro, participação de pesquisadores e na parte de infraestrutura. A maioria dos aviões de pesquisa veio de lá. E agora vamos ver o que vai acontecer, porque quatro anos com um presidente negacionista como esse e cortando o orçamento de vários parceiros que continuam no LBA, isso pode ter um impacto. Mas, felizmente, o Brasil também já assume uma liderança muito grande.

Assista a íntegra da entrevista de Carlos Nobre ao Centro de Memória FAPESP.

 

 

Fonte: https://agencia.fapesp.br/56356