Avaliação foi feita por Steven Hoffmann, professor da York University, durante webinar organizado pela FAPESP. Objetivo do evento foi esclarecer dúvidas sobre a Chamada de Rápida Implementação UN-Research Roadmap COVID-19, que recebe propostas até 26 de junho (imagem: reprodução)
Publicado em 12/05/2021
André Julião | Agência FAPESP – Além de investimentos massivos em medicina e saúde pública, os próximos meses vão demandar respostas aos problemas socioeconômicos ocasionados pela COVID-19 – em escala possivelmente sem precedentes na história. A avaliação é de Steven Hoffmann, professor da York University e diretor científico do Institute of Population & Public Health, ambos no Canadá.
“Essa é também uma pandemia de desigualdades sociais e econômicas”, disse Hoffmann durante o webinar “A Research Agenda for COVID-19 Recovery”, realizado em 5 de maio pela FAPESP, com apoio do Global Research Council. Disponível no YouTube, o evento teve como objetivo esclarecer dúvidas sobre a Chamada de Rápida Implementação UN-Research Roadmap COVID-19.
O edital, lançado em abril pela Fundação, visa selecionar projetos de pesquisa colaborativa que subsidiem políticas públicas voltadas à recuperação da crise socioeconômica decorrente da pandemia. Propostas podem ser submetidas até 26 de junho (leia mais em: agencia.fapesp.br/35668/).
Hoffmann coordenou a elaboração do “UN Research Roadmap for the COVID-19 Recovery”, documento lançado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em novembro de 2020 para estimular um esforço mundial de criação de estratégias – subsidiadas por evidências científicas – para o período de recuperação pós-pandemia. Um dos pilares do roadmap, Proteção Social e Serviços Básicos, foi elaborado por um comitê que teve entre os membros a FAPESP (leia mais em: agencia.fapesp.br/34627/).
“Em 2020, 71 milhões de pessoas chegaram à extrema pobreza, revertendo ganhos bastante significativos ocorridos nas últimas décadas em termos de enfrentamento da pobreza global. Em um certo momento, durante a pandemia, 90% dos estudantes estavam fora da escola. Alguns países reportaram aumento de mais de 30% em casos de violência doméstica. E 60% dos países relataram superlotação em presídios, o que nunca é bom, claro, mas é particularmente ruim no contexto da pandemia, em que aumenta o risco de espalhar a COVID-19”, apontou o pesquisador.
“Dada a natureza global da pandemia de COVID-19, entendemos que a cooperação é muito necessária, ainda mais na pesquisa. O que podemos aprender no Brasil pode ser relevante para pessoas em outros países. O mesmo se aplica para o que é aprendido em outros países, que pode ser importante para nós. Estamos muito felizes em lançar essa iniciativa e tentar engajar o maior número de pesquisadores ao redor do globo nesse esforço”, disse Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP, durante a abertura do evento.
Além de tentar garantir que as ações para lidar com a pandemia sejam subsidiadas por evidências científicas, um dos objetivos do documento da ONU, segundo Hoffmann, é fazer com que os aprendizados da primeira fase da pandemia ajudem a dar base para as respostas ao momento pós-pandêmico.
“Queremos trazer um foco renovado para problemas sistêmicos que conhecemos há muito tempo, mas que a COVID-19 tornou ainda mais evidentes. Temos de assegurar que as populações marginalizadas, as mais afetadas por essa crise, tenham a atenção, os recursos, o engajamento e o poder necessários”, afirmou Hoffmann.
“O momento que estamos enfrentando é uma oportunidade para a pesquisa colaborativa num assunto tão desafiador como a COVID-19”, disse a mediadora do evento, Marta Arretche, ex-coordenadora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela FAPESP. A pesquisadora representou a FAPESP, junto com o diretor científico Luiz Eugênio Mello, no comitê que contribuiu para a identificação das perguntas-chave do pilar Proteção Social e Serviços Básicos do plano da ONU.
Monitoramento de pesquisas
Saber quais pesquisas estão sendo feitas para lidar com as consequências da COVID-19 é fundamental para planejar novos estudos e mesmo saber o que deve ser priorizado em termos de financiamento. Uma ferramenta para fazer esse monitoramento – e que vai incluir os projetos financiados dentro do UN-Roadmap – é o COVID-19 Research Project Tracker.
A ferramenta permite monitorar pesquisas em curso que se enquadram nas prioridades identificadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para lidar com a pandemia. Com isso, pesquisadores e agências de fomento poderão identificar lacunas, possíveis parcerias e definir as próprias prioridades.
“O número de projetos está aumentando. Temos agora mais de cem financiadores representados nessa ferramenta. O que temos encontrado é que a maioria das pesquisas está sendo realizada em países de alta renda. E, claro, estamos tentando reforçar a necessidade da pesquisa em contextos específicos em países de renda média. Ficou claro que tem havido uma grande resposta em termos de financiamento [à pesquisa] em relação a essa pandemia. Mas também que isso nem sempre acontece, e que há uma necessidade real de colaboração”, disse Alice Norton, pesquisadora da University of Oxford e líder do COVID CIRCLE, iniciativa da UK Collaborative on Development Research (UKCDR) e da Global Research Collaboration for Infectious Disease Preparedness (GloPID-R), que realiza o monitoramento das pesquisas sobre COVID-19.
Mais do que o simples retorno ao cenário pré-pandemia, os palestrantes ressaltaram a importância de construir um futuro mais justo e mais sustentável, em alinhamento aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Lançados em 2015, os ODS são um conjunto de metas para solucionar uma série de problemas globais até 2030.
“Estamos assumindo como fato que a geração de conhecimento representa nossa melhor chance para nos recuperarmos, para estarmos melhor do que antes da crise da COVID-19. A pesquisa e os novos conhecimentos podem desempenhar esse papel, uma vez que as sociedades devem agir rápido, mas têm tempo e recursos limitados. Em situações assim, voltar ao que éramos antes pode ser irresistível. Nesse caso, porém, significaria voltar dez anos ou mais no tempo. Isso não é aceitável”, disse Ana Maria Almeida, professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (FE-Unicamp) e membro da Coordenação do Programa de Pesquisa em Políticas Públicas da FAPESP.
A Chamada de Rápida Implementação UN-Research Roadmap COVID-19 é o segundo edital da Fundação para projetos de pesquisa relacionados à pandemia. O primeiro foi lançado em março de 2020. Um dos projetos contemplados na primeira chamada foi apresentado por André Brunoni, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP). O projeto https://bv.fapesp.br/pt/auxilios/106598 está mapeando os impactos da pandemia na saúde mental de 4 mil pessoas (leia mais em: agencia.fapesp.br/33566/).
O evento na íntegra está disponível em: https://youtu.be/BZJpdf4zHbw.
Os detalhes da Chamada de Rápida Implementação UN-Research Roadmap COVID-19 podem ser conferidos em: https://fapesp.br/14843.