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Diagnóstico, vacinas e compreensão da COVID-19 avançaram graças a pesquisas apoiadas pela FAPESP


Diagnóstico, vacinas e compreensão da COVID-19 avançaram graças a pesquisas apoiadas pela FAPESP

Seminário on-line reuniu resultados de edital lançado pela Fundação no início da pandemia. Projetos selecionados levaram a descobertas importantes sobre os mecanismos de ação da doença e ao desenvolvimento de tecnologias vacinais e diagnósticas, além da compreensão do papel dos governos em crises sanitárias (imagem: reprodução)

Publicado em 10/12/2021

André Julião | Agência FAPESP – Pesquisas em todo o mundo apontam que a resposta rápida à pandemia de COVID-19 foi um dos fatores principais a determinar o sucesso de um país no enfrentamento da doença.

“Enquanto em 2021 tem havido um retorno à normalidade, 2020 trouxe insights importantes sobre o que os governos e Estados são capazes de fazer, o que eles precisariam fazer e o que eles fizeram de fato”, disse Elize Massard da Fonseca, pesquisadora da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (EASP-FGV), durante webinar realizado no dia 7 de dezembro. O evento encerrou a série “COVID-19 Research Webinars”, organizada pela FAPESP em parceria com o Global Research Council (GRC), e apresentou os resultados da “Chamada Rápida COVID-19”, lançada no começo de 2020, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou oficialmente o estado de pandemia.

Fonseca apresentou resultados de um projeto apoiado na chamada, publicados no livro Coronavirus Politics: The Comparative Politics and Policy of COVID-19 (leia mais em: agencia.fapesp.br/35704).

“Era uma chamada rápida: entre a data de abertura da submissão e a efetiva aprovação da primeira proposta foram quatro dias. Naquele conjunto, aprovamos 60 propostas. Depois lançamos outras iniciativas. Todas tiveram bom grau de desenvolvimento, muito sucesso e várias delas vêm alcançando repercussão não só no país como no exterior”, disse Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP, durante a abertura do seminário, que teve mediação de Marie-Anne Van Sluys, professora do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e membro da coordenação adjunta de Ciências da Vida da FAPESP.

No evento, foram apresentados projetos nas áreas de desenvolvimento de vacinas, desenvolvimento de infraestrutura de pesquisa científica, aspectos moleculares e políticas públicas.

Luis Carlos de Souza Ferreira, professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP), apresentou projeto sobre nanopartículas para entrega de antígenos vacinais.

“Nossa estratégia inicial seriam partículas proteicas que se autoestruturam [SAPN, na sigla em inglês]. Com o desenrolar do trabalho, encontramos dificuldades, mas avançamos e optamos por incluir ainda outras estratégias”, contou o pesquisador.

Atualmente, o grupo liderado por Ferreira realiza a avaliação de potencial vacinal protetor em modelo animal para COVID-19, com definição de formulações mais promissoras. Além disso, os pesquisadores trabalham com vacinas genéticas e a chamada vetorização molecular, que funde mais de um antígeno a proteínas que os direcionam para células do sistema imune.

Ainda entre as estratégias para o desenvolvimento de imunizantes, Edécio Cunha Neto, professor da Faculdade de Medicina (FM-USP) e pesquisador do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (InCor), apresentou os resultados da vacina desenvolvida na instituição.

O projeto, do qual ele é um dos pesquisadores principais, é coordenado por Jorge Elias Kalil Filho, professor da FM-USP e chefe do Laboratório de Imunologia Clínica e Alergia do Hospital das Clínicas (leia mais em: agencia.fapesp.br/36754).

Na pesquisa conduzida por Dario Simões Zamboni, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), a equipe procurou entender como atuam na COVID-19 os inflamassomas – complexos de proteínas que são ativados quando as células são infectadas por micróbios patogênicos.

“Logo no começo da pandemia começaram a aparecer evidências da ocorrência da tempestade de citocinas e morte celular inflamatória, o que nos levou à hipótese de que o inflamassoma poderia estar relacionado com o desenvolvimento da COVID-19”, contou o pesquisador.

Por meio de várias colaborações, os pesquisadores recrutaram 124 pacientes para estudo e observaram que aqueles com casos severos e que precisaram de ventilação mecânica tiveram muito mais ativação de inflamassoma. “Uma análise longitudinal mostrou que os que faleceram chegaram com alta quantidade de inflamassoma”, disse Zamboni.

Diagnóstico e terapias

Ronaldo Censi Faria, professor do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia da Universidade Federal de São Carlos (CCET-UFSCar), apresentou três testes de COVID-19 desenvolvidos com apoio da FAPESP. Entre as tecnologias, todas de baixo custo, uma delas permite realizar até 96 diagnósticos por hora (leia mais em agencia.fapesp.br/36162/ e agencia.fapesp.br/37003/).

A sensibilidade dos sensores permite que o grupo detecte a presença do SARS-COV-2 mesmo em amostras de esgoto. Um levantamento revela que a quantidade de vírus encontrada nessa fonte no município de São Carlos diminuiu na mesma medida em que os casos na cidade caíram.

Marcelo Lima, do Centre for Glycoscience Research da Keele University, no Reino Unido, falou sobre projeto liderado por Helena Nader, professora da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp).

Pesquisador associado ao projeto, Lima estuda o papel do anticoagulante heparina na COVID-19. Os estudos do grupo concluíram que, administrado em células infectadas, o medicamento reduz em até 70% a infecção pelo novo coronavírus (leia mais em: agencia.fapesp.br/33125/).

José Luiz Proença Módena, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp), apresentou diversos trabalhos desenvolvidos no âmbito de um projeto coordenado por ele no Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes (Leve).

Os pesquisadores do grupo mostraram, por exemplo, que o SARS-CoV-2 pode infectar neurônios. Também desvendaram o mecanismo que torna a COVID-19 mais grave em diabéticos, tornaram possível visualizar o vírus dentro da célula com uma técnica de baixo custo, mostraram que anticorpos gerados em infecção prévia são menos eficazes contra a variante gama e que vacinados podem transmitir a variante alfa.

O evento contou ainda com apresentações de Pedro Mario Pan Neto, da EPM-Unifesp, que apresentou resultados da avaliação de saúde mental e bem-estar antes e durante a pandemia. O estudo foi possível porque o grupo, liderado por Euripedes Constantino Miguel Filho, professor do Instituto de Psiquiatra (IPq) do Hospital das Clínicas da FM-USP, acompanha desde 2010 uma coorte de 2.511 crianças e adolescentes. Para o estudo de COVID, 75% dos participantes responderam aos questionários por telefone ou aplicativo.

O estudo permitiu verificar, entre outras constatações, que “o impacto financeiro da pandemia atingiu mais da metade da população dessa amostra [algo que afetou a saúde mental e o bem-estar]. Mais de 1.200 jovens relataram que a pandemia trouxe esse impacto financeiro”, disse Pan Neto.

O evento contou ainda com palestra de Paulo Roberto Bueno, professor do Instituto de Química de Araraquara da Universidade Estadual Paulista (IQ-Unesp), que falou sobre nanotecnologias para análises no leito do paciente.

O evento pode ser visto na íntegra em: https://youtu.be/i0dPh4Kq4fM.

Os demais seminários da série “COVID-19 Research Webinars” podem ser assistidos em: https://covid19.fapesp.br/webinars.
 

Fonte: https://agencia.fapesp.br/37542