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Esponja intravaginal pode tornar o tratamento da candidíase mais confortável e eficaz


Esponja intravaginal pode tornar o tratamento da candidíase mais confortável e eficaz

Com estrutura altamente porosa, material absorve grandes quantidades de fármaco e, na temperatura e pH internos do corpo, passa a liberá-lo lentamente na região afetada (foto: Fiama Martins/UFSCar)

Publicado em 03/01/2024

Julia Moióli | Agência FAPESP – Uma esponja biodegradável feita de quitosana (biopolímero proveniente da parte exterior do corpo de crustáceos) e capaz de liberar medicamentos lentamente no organismo pode tornar mais confortável e eficaz o tratamento da candidíase, doença genital que afeta três quartos das mulheres em pelo menos um momento de suas vidas. É o que mostram testes feitos por pesquisadores das universidades do Porto (Portugal) e Federal de São Carlos (UFSCar), publicados recentemente no International Journal of Pharmaceutics.

A candidíase vulvovaginal é uma das infecções genitais femininas mais prevalentes que existem. Causada por fungos do gênero Candida, provoca sintomas incômodos, como ardência, coceira, inchaço, vermelhidão e corrimento vaginal branco e espesso. Apesar de ser uma condição, em geral, pouco séria, pode eventualmente se tornar grave, atingindo outros órgãos, e retornar ao fim do tratamento, comprometendo a qualidade de vida das pacientes. Os tratamentos disponíveis nem sempre são confortáveis, já que incluem cremes e supositórios intravaginais de difícil aplicação. Além disso, sua eficácia é facilmente comprometida por eventuais atrasos no horário de aplicação.

“Desenvolvemos uma esponja que alia o conforto de um material macio e de simples aplicação à eficácia dos medicamentos disponíveis”, conta Fiama Martins, pesquisadora do Departamento de Química da UFSCar (DQ-UFSCar) e primeira autora do estudo.

Seu funcionamento é simples e lembra o dos dispositivos intrauterinos (DIU) utilizados há décadas como método contraceptivo não hormonal: graças a uma estrutura altamente porosa, a esponja absorve grandes quantidades de fármaco (nesse caso, os testes foram feitos com o conhecido antifúngico clotrimazol, comumente comercializado na forma de creme) e, na temperatura e pH internos do corpo, passa a liberá-lo lentamente e na medida certa. Uma das vantagens é que a própria paciente pode inserir a esponja no canal vaginal.

“Os ensaios in vitro com células do trato vaginal mostraram atividade anticândida contra seis cepas diferentes, liberação completa do medicamento em até quatro horas e bioequivalência entre fármaco livre e fármaco carregado na esponja [ou seja, o material não afetou a ação do antifúngico], atestando sua eficiência como sistema de liberação para o clotrimazol”, relata Martins.

Outra facilidade é ser feita de quitosana e polivinil caprolacta, materiais biocompatíveis com as células do trato vaginal e que, em contato com os fluidos da região, originam um gel que se desfaz. Dessa forma, não há a necessidade de remoção do material após o tratamento, como ocorre com outros dispositivos – por exemplo, os produzidos com poliuretano.

Produto comercial

“O estudo mostra que, ao criar novos dispositivos com propriedades biofarmacêuticas aprimoradas, podemos melhorar a aceitabilidade do tratamento pelo paciente, aspecto fundamental para a saúde pública”, acredita Emerson Rodrigues de Camargo, professor do Departamento de Química da UFSCar e coordenador do trabalho, conduzido no âmbito do Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado na UFSCar.

“Neste trabalho, unimos ciência básica, que responde às perguntas gerais, e ciência aplicada, que trata de questões específicas e leva todo esse conhecimento para um ganho social de curto, médio e longo prazo. Uma não existe sem a outra.”

De acordo com os pesquisadores, o próximo passo é seguir para a fase clínica de testes – inclusive para avaliar o uso associado a outros tipos de medicamentos, como anti-inflamatórios e cicatrizantes, no tratamento de outras doenças além da candidíase. Entre as possibilidades, Camargo cita o preenchimento do vazio da cavidade ocular em casos de perda do órgão, evitando que a musculatura facial enfraqueça e prejudique a mastigação. Em relação às próteses, a estratégia tem a vantagem de agregar medicamentos que previnem infecções.

“Nossa expectativa é que, no médio prazo, a esponja de quitosana se torne um produto comercial fabricado em larga escala no Brasil a um custo mais econômico que o de importação”, diz Camargo.

O artigo Chitosan-based sponges containing clotrimazole for the topical management of vulvovaginal candidiasis pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0378517323009298?via%3Dihub.
 

Fonte: https://agencia.fapesp.br/50556