Pesquisa do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais mostrou que a substância afetou a atividade fotossintética de microalgas, principalmente nas primeiras horas de exposição (imagem: Microalgas do género Nannochloropsis/Wikimedia Commons)
Publicado em 02/08/2022
Agência FAPESP * – Pesquisa da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em colaboração com o Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado na UFSCar, procura entender os efeitos e mecanismos de toxicidade de diferentes morfologias de tungstato de prata (αAg2WO4) sobre organismos planctônicos de ecossistemas de água doce, microalgas e microcrustáceos.
O tungstato de prata é uma substância usada principalmente nas indústrias de catalisadores, eletrônica e química, que é nociva para a água e o meio ambiente.
Os pesquisadores envolvidos avaliaram os efeitos do αAg2WO4 sobre uma espécie de alga verde unicelular, a Raphidocelis subcapitata. Os resultados mostraram que a substância afetou a atividade fotossintética da microalga, principalmente nas primeiras horas de exposição.
Além dos aspectos fisiológicos, também foram observados uma redução na densidade celular e um aumento nas biomoléculas na maior concentração de αAg2WO4, o que os pesquisadores estimam seja um mecanismo de defesa para reduzir os impactos causados pelo microcristal.
“Os parâmetros analisados neste estudo reforçam a importância de avaliar aspectos fisiológicos, populacionais (densidade celular) e os teores de biomoléculas (como clorina e carboidrato) em estudos de ecotoxicidade. Portanto, identificar os alvos de tungstato de prata contribui para entender os mecanismos de ação deste semicondutor sobre a microalga R. subcapitata”, explica Cínthia Abreu, em entrevista para a Assessoria de Imprensa do CDMF.
Abreu é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da UFSCar e primeira autora de artigo que apresenta os resultados do estudo, publicado no periódico Water, Air, & Soil Pollution.
A doutoranda também aponta que as alterações observadas nas microalgas no trabalho podem ser prejudiciais a longo prazo. Por se tratar de organismos autotróficos, os impactos na base da cadeia alimentar podem representar ameaças a níveis tróficos superiores.
Considerando que as microalgas são organismos autótrofos e base da cadeia trófica, sendo responsáveis por processos essenciais à manutenção da vida na Terra, como, por exemplo, a produção de oxigênio e a fixação de carbono, as alterações nos processos fotossintéticos desses seres podem afetar níveis tróficos superiores, causando sérios problemas aos ecossistemas e também à espécie humana.
Os dados apresentados pela pesquisa ainda serão úteis para prever e avaliar os riscos causados pelos microcristais, além de nortear políticas públicas e agências reguladoras no estabelecimento de limites seguros de materiais funcionais para o ecossistema aquático.
De acordo com a pesquisadora, os próximos passos do trabalho incluem entender os efeitos da morfologia cúbica de tungstato de prata sobre parâmetros fotossintéticos e bioquímicos da microalga R. subcapitata. Além disso, recentemente o grupo de estudiosos identificou os efeitos de ambas morfologias do αAg2WO4 sobre uma espécie nativa de microcrustáceo, a Ceriodaphnia silvestrii.
*Com informações da Assessoria de Comunicação do CDMF.