Com sede na Esalq-USP e investimento de R$ 40 milhões, unidade deverá desenvolver um novo modelo de manejo integrado de pragas que afetam a agricultura tropical; objetivo é tornar o setor mais sustentável (foto: Gerhard Waller)
Publicado em 12/05/2021
Elton Alisson | Agência FAPESP – A FAPESP e a Koppert Biological Systems – empresa de soluções para a agricultura, no Brasil desde 2011 –, lançaram na última terça-feira (11/02), na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), em Piracicaba, o São Paulo Advanced Research Center for Biological Control (SPARCBio).
Com investimento de R$ 40 milhões, o objetivo do centro de pesquisa será desenvolver um novo modelo de manejo integrado de pragas e de doenças que afetam a agricultura tropical, de modo a tornar o setor mais moderno e sustentável.
Os investimentos da FAPESP serão feitos por meio do programa Centros de Pesquisa em Engenharia (CPE).
“Será o 13º centro criado pela FAPESP por intermédio desse programa, cujo objetivo é alavancar recursos para o desenvolvimento de pesquisas junto ao setor privado”, disse Ronaldo Aloise Pilli, vice-presidente da FAPESP, durante o evento.
A Koppert aportará um volume de recursos equivalente ao que será desembolsado pela FAPESP. Outra parcela virá da Esalq-USP, como contrapartida econômica, na forma de salários de pesquisadores e de pessoal de apoio, infraestrutura e instalações.
“Teremos a responsabilidade de desenvolver produtos, processos e conhecimentos voltados ao avanço do manejo integrado de pragas e doenças e ao modelo agrícola brasileiro, que poderá ser replicado nas mesmas culturas agrícolas cultivadas em países também localizados em zonas tropicais”, afirmou Danilo Pedrazzoli, diretor industrial da Koppert no Brasil.
O CPE terá a participação de, aproximadamente, 50 pesquisadores, de diversas universidades e instituições de pesquisa do Brasil e do exterior, além de estudantes de graduação e de pós-graduação.
A equipe desenvolverá projetos inter e multidisciplinares em cinco linhas de pesquisa. Uma delas é voltada à prospecção de novos agentes de controle biológico, englobando tanto macro (insetos e ácaros, por exemplo) quanto microrganismos (vírus, bactérias e fungos).
“Um dos objetivos das pesquisas que serão desenvolvidas no centro é aumentar o portfólio de produtos biológicos no Brasil, que ainda é pequeno”, disse à Agência FAPESP José Roberto Postali Parra, professor da Esalq-USP e coordenador do SPARCBio.
De acordo com Parra, enquanto na Europa já foram descobertos aproximadamente 400 agentes biológicos de controle, no Brasil, onde se desenvolveu ao longo das últimas décadas o maior programa de controle biológico no mundo, são utilizados cerca de oito macrorganismos e 25 microrganismos com essa finalidade.
Para aumentar esse número, os pesquisadores pretendem ampliar estudos da biodiversidade brasileira e usar automação para a criação em larga escala de macrorganismos (processo que requer mão de obra intensiva), além de desenvolver novas formulações para aplicações de microrganismos.
“Da mesma forma que o Brasil desenvolveu ao longo dos últimos 40 anos um modelo de agricultura para regiões tropicais e se tornou líder nessa seara, precisamos, agora, desenvolver um modelo de controle biológico para regiões tropicais”, afirmou Parra.
Mudança de cultura
De acordo com pesquisadores presentes no evento, o Brasil possui o maior programa de controle biológico do mundo – executado atualmente em 10 milhões de hectares de lavouras, principalmente de cana-de-açúcar – e é o local em que a técnica mais cresce no mundo, a taxas de 20% ao ano.
Uma vespa que parasita ovos, a Trichogramma galloi, por exemplo, estudada por Parra desde 1984, tem sido aplicada desde o ano 2000 para combater uma das principais pragas da cultura: a broca-da-cana.
“Só neste ano, o inseto será aplicado em 2 milhões de hectares de cana-de-açúcar, sendo 91% deles liberados com drones”, disse Parra.
Há, porém, muitos desafios para ampliar o uso do controle biológico no país, ponderaram. Entre esses desafios estão promover a mudança da cultura de utilização de agroquímicos por parte dos agricultores brasileiros e tratar grandes extensões de lavouras com controle biológico.
“Nos Países Baixos, onde a Koppert foi fundada, o controle biológico é feito em estufa. É muito diferente fazer controle biológico em grandes lavouras de cana-de-açúcar, milho, soja e café, por exemplo, como ocorre no Brasil. Entendemos que só estamos no começo do trabalho”, disse Paul Koppert, CEO da empresa, durante o evento.
As pesquisas do novo centro serão relacionadas, principalmente, ao manejo integrado de pragas nas culturas de soja, cana-de-açúcar, milho, algodão, café, citros e hortaliças.