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Genoma de alga vermelha é sequenciado pela primeira vez


Genoma de alga vermelha é sequenciado pela primeira vez

Encontrada por toda a extensão litorânea das Américas Central e do Sul, a Gracilaria domingensis poderá ser explorada do ponto de vista alimentício, assim como na busca por compostos antienvelhecimento e medicinais (foto: Eliane Marinho Soriano/UFRN)

Publicado em 15/06/2022

Agência FAPESP* – Presente em todo o litoral brasileiro e conhecida por seu grande potencial econômico, a tradicional alga vermelha Gracilaria domingensis teve, pela primeira vez, todo o seu genoma sequenciado. Com o avanço, agora é possível conhecer o DNA completo da planta e estudar mais a fundo como suas moléculas se comportam, que tipo de substâncias produz para sobreviver e entender como seus mecanismos de ação funcionam.

O trabalho envolveu pesquisadores das universidades de São Paulo (USP), Estadual Paulista (Unesp), Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e outros colaboradores, sendo conduzido no âmbito do Programa BIOTA-FAPESP e do Projeto Temático “Biodiversidade e prospecção de algas de águas tropicais e da Antártica marítima”, coordenado pelo professor da USP Pio Colepicolo Neto. Os resultados foram publicados no Journal of Phycology.

No caso da G. domingensis, ter acesso a toda a sua estrutura pode ser importante para a identificação de substâncias de interesse tecnológico e comercial, além de ampliar o entendimento sobre como esses compostos são “fabricados” pela planta. “Com o genoma completo da alga, é como se tivéssemos acesso a um grande livro de receitas que nos revela como ela produz determinados compostos. E quando sabemos a receita de algo, conseguimos modificá-la para que fique ainda melhor e possamos aproveitá-la de forma mais eficiente para uma aplicação de nosso interesse”, explica Márcia Graminha, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara (FCF-Unesp) e coautora do artigo.

Conhecer o genoma da Gracilaria poderia facilitar, por exemplo, a produção de novos protetores solares a partir de substâncias encontradas na planta. “Essas algas estão constantemente expostas ao sol, então elas produzem uma série de compostos para se proteger da radiação. Sabendo como elas fazem isso, ou seja, qual a receita para essa produção, poderíamos adaptá-la para ampliar a concentração dessas moléculas e utilizá-las na composição de um possível filtro solar. É totalmente viável cultivarmos essas algas no laboratório e ‘domesticá-las’ para que fabriquem substâncias de interesse da indústria, para uso em cosméticos, medicamentos ou até em aplicações culinárias”, completa a cientista.

Durante o sequenciamento da alga, os cientistas identificaram 11.437 genes, dos quais 36% até então eram desconhecidos, além de 1.567 RNAs. Agora, essas informações serão disponibilizadas em bancos de dados públicos para que pesquisadores de todo o mundo tenham acesso e possam ampliar o conhecimento acerca da planta, abrindo caminho para novas descobertas. A G. domingensis, que para este estudo foi coletada no Estado do Rio Grande do Norte, é a primeira alga vermelha do Atlântico Sul a ter seu genoma completo sequenciado. O trabalho levou cerca de seis anos para ser concluído.

Encontrada por toda a extensão litorânea das Américas Central e do Sul, a alga possui grande potencial econômico, pode ser explorada do ponto de vista alimentício, na busca por princípios ativos antienvelhecimento e também para o estudo de substâncias que podem ser aproveitadas na área farmacológica, como na descoberta de novos candidatos a fármacos, por exemplo.

Todo esse enorme potencial de exploração faz estudos como o do genoma da G. domingensis ganharem proporções ainda maiores, que podem ir além da ciência: “Estamos passando por uma fase econômica difícil, com o aumento do número de pessoas com risco de insegurança alimentar. São mais de 116 milhões de brasileiros com algum problema de alimentação. As algas, por sua vez, possuem um potencial comestível muito importante, então, sabendo como elas se comportam, podemos trabalhar na extração de nutrientes que melhorem a condição da população mais vulnerável. Além disso, vivemos um problema sério de desemprego, temos populações que moram no litoral e que poderiam se beneficiar dessas algas em algum momento, passando a cultivá-las, por exemplo. Diante de tudo isso, posso afirmar que esse projeto não é só ciência básica, pois há vários outros desdobramentos envolvidos, tanto sociais como econômicos”, afirma Graminha.

O artigo Insights into agar and secondary metabolite pathways from the genome of the red alga Gracilaria domingensis (Rhodophyta, Gracilariales) pode ser lido em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jpy.13238.

* Com informações da Assessoria de Comunicação da FCF-Unesp.
 

Fonte: https://agencia.fapesp.br/38905