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Global Research Council debate o papel das agências de fomento na pandemia


Global Research Council debate o papel das agências de fomento na pandemia

Rapidez na seleção de projetos e capacidade de mobilizar recursos tornaram as instituições fundamentais na resposta aos desafios da COVID-19 nas Américas, avaliam participantes do GRC (foto: Léo Ramos Chaves/Pesquisa FAPESP)

Publicado em 12/04/2021

Elton Alisson | Agência FAPESP – A celeridade na seleção de projetos e a capacidade de mobilizar diligentemente recursos financeiros, humanos e de infraestrutura de pesquisa em seus respectivos países tornaram as agências de fomento científico e tecnológico agentes fundamentais no enfrentamento dos desafios econômicos, sociais e de saúde pública impostos pela COVID-19 nas Américas – a região mais afetada pela pandemia.

A avaliação foi feita por participantes do encontro regional das Américas do Global Research Council (GRC), órgão que reúne os chefes das principais agências de fomento à pesquisa do mundo com o objetivo de promover e compartilhar dados e melhores práticas para a colaboração de alta qualidade entre seus participantes.

Organizada pela FAPESP, pelo Consejo Nacional de Investigaciones Científicas e Técnicas (Conicet), da Argentina, e Consejo Nacional de Ciencia y Tecnología (Conacyt), do Paraguai, a reunião on-line aconteceu entre os dias 9 e 11 de dezembro.

“Dois dias após o diagnóstico no Brasil do primeiro caso de COVID-19 da América Latina o genoma do novo coronavírus foi completamente sequenciado [por pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz e das universidades de São Paulo (USP) e de Oxford (Reino Unido)]”, disse Marco Antônio Zago, presidente da FAPESP.

“Isso aconteceu porque os laboratórios em São Paulo foram preparados e a pesquisa em virologia foi fortemente organizada no Estado com apoio da FAPESP”, afirmou Zago.

Ainda no início da pandemia de COVID-19 no Brasil, a FAPESP lançou uma chamada rápida que ofereceu recursos adicionais para que pesquisadores apoiados redirecionassem parte do esforço de pesquisa para a compreensão do SARS-CoV-2 e o tratamento da doença, destacou Luiz Eugênio Mello, diretor científico da Fundação.

“Estamos orgulhosos de termos avaliado e aprovado os primeiros projetos selecionados nessa chamada em apenas quatro dias após terem sido submetidos”, disse Mello.

A FAPESP também lançou no início da pandemia uma chamada especial, no âmbito do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), para apoiar micro e pequenas empresas e startups dispostas a aplicar ou escalonar processos ou produtos inovadores relacionados à doença, a exemplo de kits diagnósticos e ventiladores pulmonares.

Além disso, criou e implementou um repositório de informações clínicas para subsidiar pesquisas sobre COVID-19, o COVID-19 Data Sharing/BR, que abriga dados abertos e anonimizados de mais de 332 mil pacientes, dos quais mais de 10 mil foram hospitalizados, e os resultados de 9,5 milhões de exames clínicos e laboratoriais.

“A percepção da necessidade de colaborar, trocar e redefinir aspectos proprietários de conhecimento e tecnologia aumentou durante a pandemia, e isso traz uma série de desafios associados às iniciativas de acesso aberto”, sublinhou Mello.

Já a National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos, mobilizou tanto recursos de seu próprio orçamento como de dotações suplementares obtidas por meio da Lei de Auxílio ao Coronavírus, Socorro e Segurança Econômica (Cares Act), para apoiar uma ampla gama de áreas de pesquisa que ajudassem o país a combater e se recuperar da crise causada pela COVID-19. Para isso, foram empregados vários mecanismos de financiamento, incluindo o Rapid Response Research (Rapid) – um processo de concessão rápida de recursos para acelerar descobertas críticas em situações de grave urgência –, contou Joanne Tornow, diretora assistente para ciências biológicas da agência norte-americana.

Antes da pandemia de COVID-19, o Rapid foi usado pelos Estados Unidos para enfrentar crises causadas pelo surgimento de furacões, do vírus ebola e derramamentos de óleo, afirmou Tornow.

“Por meio desse mecanismo de financiamento foi possível apoiar a construção do painel da COVID-19, desenvolvido por pesquisadores da Universidade John Hopkins, e de modelos epidemiológicos para ajudar a prever a propagação do vírus, entre diversos outros projetos”, disse.

“Essa resposta ampla e rápida foi possível em razão do histórico de apoio da NSF a pesquisas fundamentais em questões relacionadas à biologia, evolução ecológica, efeitos de medicamentos e mitigação de vírus, entre outros temas, e à capacidade de escalonar, ou seja, aproveitar as parceiras e programas existentes para expandir a capacidade de resposta”, avaliou Tornow.

Por sua vez, o Natural Sciences and Engineering Research Council (NSERC), do Canadá, disponibilizou no início da pandemia no país 15 milhões de dólares canadenses para estimular a colaboração de pesquisadores ligados a universidades e institutos de pesquisa com empresas no país para enfrentar desafios tecnológicos, como a produção de equipamentos de proteção individual (EPIs) para profissionais de saúde.

Foram selecionados mais de 300 projetos por meio dessa iniciativa, disse Alessandro Adem, presidente do NSERC.

“Para se ter uma ideia da mobilização dos cientistas canadenses, até Arthur McDonald [ganhador do prêmio Nobel de Física em 2015] se engajou no desenvolvimento de um ventilador mecânico de baixo custo para o tratamento de pacientes em estado grave”, contou Adem.

Na Argentina, o Conicet mobilizou os mais de 70 institutos e grupos de pesquisas ligados à instituição para reorientar seus projetos para o combate à pandemia no país e lançou uma chamada de propostas com foco em diagnóstico, controle, prevenção e tratamento.

Por meio da chamada foram selecionados 64 projetos entre mais de 900 submetidos, que receberam investimento total de US$ 100 mil. Um dos projetos resultou no desenvolvimento do primeiro teste sorológico de COVID-19 no país.

“A pandemia de COVID-19 evidenciou a necessidade de fortalecer a capacidade nacional de prevenção e diagnóstico”, disse Ana Franchi, presidente do Conicet.

Em parceria com outros ministérios do país, além do de ciência e tecnologia, o órgão iniciou um programa para contatar pesquisadores e bolsistas que estão no exterior para repatriá-los de modo a fortalecer o sistema de C,T&I do país, disse Franchi.

Já uma das principais ações do Conacyt, do Paraguai, para responder aos desafios da pandemia de COVID-19 foi o lançamento de uma chamada de projetos em diferentes áreas.

“Foram selecionados 31 projetos, que receberam, no total, recursos de pouco mais de US$ 1 milhão”, disse Maria Teresa Cazal, diretora de relações interinstitucionais e internacionais do Conacyt.

Desafios globais

Na avaliação de Aisen Etcheverry, diretora nacional da Agencia Nacional de Investigacíon y Desarollo (ANID), do Chile, a pandemia de COVID-19 mudou o papel e a missão das agências de fomento à pesquisa.

“Temos aprendido durante esse processo a entender como podemos apoiar melhor a comunidade científica do país a enfrentar a pandemia de COVID-19, como também auxiliar a sociedade a se preparar para futuras pandemias”, disse Etcheverry.

A pandemia também aumentou a percepção de que os desafios globais não podem ser enfrentados apenas por atores nacionais e que a cooperação internacional é essencial, disse Mello. “Agora é uma boa oportunidade para advogarmos pela ciência”, avaliou.

Para Michael Bright, secretário-executivo do GRC, a pandemia de COVID-19 é um exemplo oportuno de um grande desafio global sendo abordado por meio de pesquisas orientadas por missão – um dos tópicos discutidos no âmbito do órgão nos últimos anos.

“A pesquisa orientada por missão tem emergido como um modelo para enfrentar os grandes desafios globais do século 21, buscando fornecer uma abordagem sistemática para atingir objetivos específicos”, explicou.

“O enfrentamento da COVID-19 e a preparação para futuras pandemias são desafios que podem ser atacados por meio dessa abordagem”, avaliou Bright.
 

Fonte: https://agencia.fapesp.br/34824