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Identificada em paciente com leishmaniose cutânea cepa resistente ao fármaco mais utilizado no país


Identificada em paciente com leishmaniose cutânea cepa resistente ao fármaco mais utilizado no país

Células do sistema imune (macrófagos) infectadas com a cepa de Leishmania amazonensis resistente à anfotericina B (imagem: Elizabeth Magiolo Coser e Bianca Alves Ferreira)

Publicado em 15/08/2024

Thais Szegö | Agência FAPESP – Ao analisar amostras de um paciente de 46 anos residente no Maranhão, pesquisadores identificaram pela primeira vez no país uma cepa circulante do parasita Leishmania amazonensis resistente à anfotericina B, um dos fármacos utilizados no tratamento da leishmaniose cutânea.

A doença é caracterizada por lesões na pele que persistem por meses, mas podem se curar. No caso em questão, porém, o indivíduo apresentava a forma difusa de leishmaniose cutânea, considerada rara, de difícil tratamento e associada a uma resposta imune inadequada do organismo.

Além disso, o paciente apresentava coinfecção pelo vírus HIV (causador da Aids), o que tornou o quadro ainda mais difícil de ser combatido. Ele já havia sido submetido a tratamentos prévios sem sucesso, mostrando-se refratário ao esquema terapêutico com dois medicamentos comumente utilizados contra a leishmaniose no país: o antimoniato de meglumina, que foi a primeira escolha para o tratamento da doença por várias décadas apesar de sua baixa taxa de eficácia, e a anfotericina B, que compõe uma das poucas opções no país para tratar a leishmaniose cutânea difusa.

Por esse motivo, pesquisadores decidiram fazer ensaios in vitro e in vivo com a cepa isolada do paciente para testar sua sensibilidade à anfotericina B. “No modelo in vivo, utilizamos camundongos infectados com o parasita isolado e tratados com a anfotericina B, além de submetidos a outros dois medicamentos aos quais o paciente não tinha sido exposto, a miltefosina e a paromomicina”, conta Adriano Cappellazzo Coelho, professor assistente do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp) e coordenador do estudo.

Resultados da pesquisa, apoiada pela FAPESP por meio de quatro projetos (16/21171-6, 20/01948-1, 19/22175-3 e 22/06176-2), foram divulgados na revista PLOS Neglected Tropical Diseases.

Os cientistas compararam os resultados obtidos nos ensaios in vitro e in vivo com testes feitos com outra cepa da mesma espécie sabidamente sensível a esses medicamentos. Assim, concluíram que a cepa proveniente do paciente analisado apresentou resistência à anfotericina B nos dois casos. Já na análise com os fármacos com os quais o paciente não foi previamente tratado (miltefosina e paromomicina), os animais responderam ao tratamento de maneira similar aos infectados com a cepa sensível a esses fármacos, mostrando que a diferença estava especificamente na resposta à anfotericina B.

“Dessa forma, nosso trabalho demonstrou pela primeira vez a presença de uma cepa circulante no país que é resistente à anfotericina B e, como ela é uma das poucas opções contra a leishmaniose cutânea difusa, isso indica a necessidade urgente de buscarmos fármacos alternativos para combater essa parasitose, já que a falha no tratamento da leishmaniose consiste em um sério problema de saúde pública no Brasil”, afirma Coelho.

Na América Latina mais de 1 milhão de casos de leishmaniose cutânea foram notificados de 2001 a 2021, dos quais 37% ocorreram no Brasil. Apesar de o número de casos no Brasil ter diminuído 14,3% de 2017 a 2021, mais de 15 mil foram notificados em 2021, ocorrendo em quase todos os Estados brasileiros, em especial na região amazônica. Os principais fatores de risco associados à doença são sexo masculino, má qualidade das moradias e moradia próxima a áreas florestais, onde os flebotomíneos, vetor responsável pela transmissão da leishmaniose, estão predominantemente associados.

Para ler o artigo Amphotericin B resistance in Leishmania amazonensis: In vitro and in vivo characterization of a Brazilian clinical isolate acesse: https://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.0012175.
 

Fonte: https://agencia.fapesp.br/52503