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Idoso com obesidade abdominal e fraqueza muscular tem mais risco de problemas locomotivos, diz estudo


Idoso com obesidade abdominal e fraqueza muscular tem mais risco de problemas locomotivos, diz estudo

Pesquisadores da UFSCar e da University College London analisaram dados de 2.294 indivíduos com mais de 60 anos, acompanhados durante oito anos. Resultados foram divulgados na revista Age and Aging (foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Publicado em 26/08/2021

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – A combinação de fraqueza muscular e gordura concentrada na região abdominal pode servir de alerta para idosos de que problemas de locomoção estão chegando. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em parceria com a University College London (UCL), mostrou que idosos com essas duas características físicas apresentaram perda acentuada da velocidade de caminhada.

A perda da velocidade da marcha é um processo natural do envelhecimento, porém, quando ocorre de maneira acentuada, pode ocasionar problemas de mobilidade. Além de dificultar tarefas do dia a dia, como atravessar a rua antes de o semáforo fechar, a redução da velocidade pode indicar outros problemas futuros, como risco aumentado de queda e, por consequência, perda de autonomia do idoso.

“Na comparação que fizemos, o declínio de velocidade só ocorria de forma mais acentuada quando as duas características – gordura abdominal e fraqueza muscular – estavam associadas. Isso quer dizer que os idosos que tinham apenas gordura abdominal ou só fraqueza muscular não apresentaram redução da velocidade da caminhada tão acentuada”, diz Tiago da Silva Alexandre, professor do Departamento de Gerontologia da UFSCar.

O estudo, publicado na revista Age and Aging, analisou os dados sobre condições físicas e de velocidade da marcha de 2.294 indivíduos com mais de 60 anos, que integram o estudo populacional English Longitudinal Study of Aging (ELSA). A pesquisa foi apoiada pela FAPESP.

A partir do banco de dados do ELSA, os pesquisadores dividiram os idosos em quatro grupos. Um formado por indivíduos com fraqueza muscular e gordura abdominal; outro com integrantes que tinham apenas fraqueza muscular; o terceiro com portadores de gordura abdominal somente; e o último com pessoas sem nenhum dos fatores investigados.

Embora nenhum dos participantes do estudo tivesse problemas de mobilidade ou velocidade reduzida no início das medições, observou-se nos oito anos subsequentes de monitoramento que aqueles que tinham gordura abdominal e fraqueza muscular apresentaram a maior perda de velocidade de caminhada.

Roberta de Oliveira Máximo , aluna de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da UFSCar e autora do estudo, explica que o esperado é que os idosos andem na velocidade de 0,8 metro por segundo (m/s) – ou 2,88 quilômetros por hora (km/h).

“Nos idosos com gordura abdominal e fraqueza muscular observamos uma perda de 0,15 m/s em um período de oito anos. Nessa toada, pode chegar um momento em que ele não consegue mais atravessar a rua no tempo de um semáforo”, esclarece.

De fato, outra pesquisa publicada em 2017, com base em dados de outro estudo epidemiológico, o SABE, mostrou que 97,8% dos idosos da cidade de São Paulo não conseguem atravessar a rua no tempo do semáforo. O estudo não fazia relação entre gordura abdominal e fraqueza muscular com a dificuldade de atravessar a rua (leia mais em: agencia.fapesp.br/25221/).

Gordura e inflamação

Os pesquisadores da UFSCar ressaltam que a gordura acumulada na região abdominal ativa uma cascata inflamatória intensa, que consome a massa muscular, diminuindo a força. “É daí que surgiu esse conceito que chama obesidade abdominal dinapênica, que o nosso grupo de pesquisa vem estudando nos últimos anos. Em estudos anteriores tínhamos relacionado essas características, tão comuns na população, ao maior risco de queda, alteração de metabolismo dos lipídios, carboidratos, glicose, colesterol, incapacidade e morte. Mas para mobilidade esse é o primeiro estudo a fazer essa associação”, diz Alexandre à Agência FAPESP.

No estudo, foram considerados obesos abdominais homens com circunferência superior a 102 centímetros e mulheres com mais de 88 centímetros de circunferência abdominal. Já em relação à força muscular, os pesquisadores avaliaram a força de pressão da mão. Foram considerados dinapênicos homens com força inferior a 26 quilos (kg) e mulheres com menos de 16 kg de força.

Sobre a relação entre acúmulo de gordura, fraqueza muscular e perda de mobilidade, o pesquisador ressalta que, com o envelhecimento, é natural que o depósito de gordura subcutâneo migre para a região da barriga.

“Nos homens, ele é mais comum no abdômen, enquanto nas mulheres é na região do quadril e coxas, mas à medida que o hormônio vai embora com a menopausa essa gordura vai se mobilizando para o abdômen também. E é aí que ocorre a cascata inflamatória, pois o acúmulo de gordura abdominal aumenta a inflamação que consome o músculo e reduz a força ao prejudicar também o controle neural dos músculos. O resultado é ter cada vez menos força e mais acúmulo de gordura”, diz.

Os pesquisadores destacam, portanto, a necessidade de que a medição de gordura abdominal e fraqueza muscular seja usada, em consultórios e clínicas, por profissionais de saúde como preditoras da perda de velocidade da caminhada.

“O declínio da velocidade da caminhada é um indicador importante, pois sugere dificuldade de mobilidade e, consequentemente, maior risco de queda e incapacidade no idoso. Com esse achado, queremos que mais profissionais de saúde se atentem para esse potencial preditor. Afinal uma parcela importante da população idosa tem fraqueza muscular combinada com aumento de gordura abdominal. E ambos os fatores podem ser revertidos por meio de treinamentos de força e alimentação”, diz.

O artigo Dynapenia, abdominal obesity or both: which accelerates the gait speed decline most? (doi: 10.1093/ageing/afab093), de Roberta de Oliveira Máximo, Dayane Capra de Oliveira, Paula Camila Ramírez, Mariane Marques Luiz, Aline Fernanda de Souza, Maicon Luís Bicigo Delinocente, Andrew Steptoe, Cesar de Oliveira, Tiago da Silva Alexandre, pode ser lido em https://academic.oup.com/ageing/advance-article/doi/10.1093/ageing/afab093/6291831?searchresult=1.
 

Fonte: https://agencia.fapesp.br/36693