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Iniciativa multinacional aponta diretrizes para mitigar os impactos de espécies invasoras


Iniciativa multinacional aponta diretrizes para mitigar os impactos de espécies invasoras

Minks em paisagem da Patagônia argentina. Os animais foram introduzidos na América do Sul para a produção de peles (foto: Programa Patagonia-Aves Argentinas)

Publicado em 13/07/2021

José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – Espécies exóticas invasoras são causadoras de impactos ambientais, sociais e econômicos negativos. Um exemplo, entre muitos, é a gramínea braquiária – de origem africana e introduzida no Brasil para formação de pastagens destinadas à criação de gado bovino –, que se tornou uma grande ameaça para a sobrevivência de espécies nativas e a biodiversidade em várias escalas espaciais.

A erradicação completa de espécies exóticas invasoras é frequentemente inviável. E tentativas feitas nesse sentido já produziram resultados indesejados e até mesmo prejudiciais, porque a simples retirada da espécie exótica invasora não reconstitui o ambiente – como, por exemplo, em áreas de Cerrado invadidas por pinheiros. Por isso, considerando que espécies exóticas invasoras que não podem ser erradicadas precisam ser administradas continuamente, pesquisadores do Brasil, Argentina, Chile e Reino Unido definiram os eixos estratégicos para uma política nesse sentido, com foco na mitigação dos impactos, mais do que na eliminação das espécies.

O projeto resultante, que recebeu o nome de CONTAIN (“conter” em inglês), surgiu a partir de uma chamada de propostas lançada em 2018 por acordo de cooperação entre a FAPESP; o Natural Environment Research Council (NERC), o UK Research and Innovation (UKRI) e o Newton Fund (NF), do Reino Unido; o Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (Conicet), da Argentina; a Comisión Nacional de Investigación Científica y Tecnológica (Conicyt), do Chile; e o Consejo Nacional de Ciencia, Tecnología e Innovación Tecnológica (Concytec), do Peru.

A iniciativa busca estabelecer e desenvolver ferramentas de manejo que permitam otimizar o controle de espécies exóticas invasoras em horizontes de médio e longo prazo. A participação do grupo brasileiro, sediado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), é coordenada por Alessandra Fidelis, professora do Instituto de Biociências, no campus de Rio Claro.

Um estudo elaborado pelos integrantes do CONTAIN foi publicado no periódico BioScience. O trabalho contou com apoio da FAPESP por meio do projeto “Uso do manejo adaptativo na otimização do manejo a longo prazo de espécies invasoras prejudiciais à biodiversidade e economia rural”, conduzido por Fidelis.

“Nosso estudo procurou contemplar não apenas as invasões em si, mas também traçar diretrizes para a interação com gestores, tendo o objetivo de conter a proliferação das espécies e mitigar seus impactos”, diz a pesquisadora à Agência FAPESP.

O estudo utilizou como definição de espécies exóticas invasoras aquelas que “transitam com sucesso pelos três estágios iniciais de invasão [transporte, introdução e estabelecimento] e, subsequentemente, estabelecem múltiplas populações autossustentáveis, compostas por indivíduos que se reproduzem, sobrevivem e se dispersam, em uma paisagem além da sua distribuição nativa”. E indicou que um subconjunto delas “produz uma gama de impactos ambientais, sociais e econômicos negativos em várias escalas espaciais”.

Nesse vasto subconjunto, foram enfocadas as seguintes espécies exóticas invasoras: no Brasil, a braquiária e outras gramíneas de origem africana (introduzidas para o plantio de pastagens destinadas à alimentação de rebanhos bovinos) e as árvores do gênero Pinus (introduzidas do hemisfério norte para a produção de polpa e resina); na Argentina, o mamífero de origem norte-americana mink (também chamado de vison e introduzido para a produção de peles) e as árvores dos gêneros Pinus e Ligustrum (de origem asiática e utilizada em arborização); no Chile, o pinheiro, o mink e a vespa de jaqueta amarela (de origem asiática).

“Definimos seis critérios de planejamento para mitigar os impactos. Os três primeiros configuram um levantamento detalhado da situação: mapear a presença da espécie exótica invasora na região e sua distribuição espacial; investigar por quanto tempo essa invasora está presente; avaliar o que sabemos sobre os impactos causados por ela”, informa Fidelis.

E prossegue. “Os três critérios seguintes dizem respeito à resposta que podemos dar a essa situação: que tipos de intervenções são factíveis, do ponto de vista técnico, social e econômico; que consequências negativas essas intervenções podem acarretar; fazer o balanço dos custos e benefícios das intervenções e das consequências."

A atual pandemia já explicitou com clareza meridiana os riscos que a degradação dos ambientes naturais pode causar. E a urgência da adoção de políticas de controle e mitigação bem embasadas em conhecimentos científicos. “No caso das espécies enfocadas por nosso estudo, temos um motivo a mais, e um motivo bastante forte, para implementar essas políticas, pois foi descoberto que o mink é transmissor do novo coronavírus”, comenta Fidelis.

Evidentemente, tudo isso só será efetivo se os conhecimentos gerados nas universidades e nos institutos de pesquisa transbordarem o ambiente acadêmico e forem abraçados pela sociedade, em especial pelos gestores, públicos e privados.

O artigo Management policies for invasive alien species: addressing the impacts rather than the species pode ser acessado em https://doi.org/10.1093/biosci/biaa139.
 

Fonte: https://agencia.fapesp.br/36331