Projeto, apoiado pela FAPESP, integra prontuário digital, biobanco e laboratório de análise genômica para subsidiar a clínica médica (imagem: divulgação)
Publicado em 23/04/2021
Claudia Izique | Agência FAPESP – O Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, que atende diariamente cerca de 2 mil portadores de doenças cardíacas em consultas, exames e cirurgias, vai inaugurar em dezembro a plataforma Dante Digital, o que permitirá iniciar procedimentos de medicina personalizada.
O primeiro passo foi a criação de um biobanco integrado ao laboratório biomolecular para realização de análises genéticas de amostras a partir do sangue coletado de pacientes. “A genômica é uma ferramenta importante no tratamento de doenças cardíacas e irá subsidiar a clínica médica”, sublinha Fausto Feres, diretor do Instituto.
O segundo passo foi implantar o prontuário digital, com informações de todos os setores envolvidos no atendimento ao paciente, integrado a um sistema baseado em inteligência artificial para a análise desse conjunto de informações – incluindo os dados obtidos da análise genética –, para dar suporte à customização dos diagnósticos. “A possibilidade de fazer clínica médica utilizando big data é resultado do apoio da FAPESP”, afirma Carlos Gun, diretor de Ensino e Pesquisa do Instituto.
O Dante Digital começou a ser concebido em abril de 2018, quando o Instituto, vinculado à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, teve aprovado projeto submetido ao edital do Programa de Modernização de Institutos Estaduais de Pesquisa da FAPESP. No âmbito desse programa a Fundação destinou um total de R$ 120 milhões para a modernização da infraestrutura de pesquisa e capacitação de pessoal para 12 instituições de pesquisa paulistas.
Bioengenharia e inovação
“A ideia inicial era estruturar o banco de dados. Mas o projeto avançou com a consultoria de Kleber Franchini”, conta Feres. Franchini é diretor do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas.
A parceria com Franchini desdobrou-se num contrato com o CNPEM, firmado por intermédio da Secretaria da Saúde, que abriu ao Dante Pazzanese acesso também ao Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano) e ao Laboratório Nacional do Luz Síncrotron (LNLS), que opera o Sirius.
Junto com os laboratórios de Campinas, o Dante Pazzanese está desenvolvendo o coaguchek, uma fita para o monitoramento da coagulação sanguínea – semelhante à que mede a glicemia – utilizada em pacientes que fazem uso de medicamentos anticoagulantes. “Os níveis de coagulação se alteram em função de alimentação ou do peso do paciente e precisam ser constantemente monitorados”, explica Feres.
Diariamente, 700 pacientes do Instituto precisam desse acompanhamento. “Cada fita comprada no mercado custa R$ 16. E o SUS não cobre este gasto; paga um outro tipo de exame que leva, em média, oito horas. Com o uso da fita, o resultado sai em 15 minutos”, compara Feres. O coaguchek permitirá que todos os pacientes utilizem a fita, sem impacto de custo para o Instituto.
O Instituto Dante Pazzanese já tem implantado um Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) para dar suporte às iniciativas de inovação. “Desenvolvíamos alguns equipamentos para uso do hospital, como bolsas de assistência ao coração, desfibriladores, marcapassos internos, entre outros. Mas não tínhamos, até a constituição do NIT, uma cultura de desenvolvimento de produtos”, conta Gun.
Desde o início da pandemia da COVID-19, boa parte do material de intubação utilizado em pacientes é fabricada pela área de bioengenharia utilizando impressora 3D.
O ambiente de inovação foi reforçado com a constituição do Inova IDP, que pesquisa e desenvolve devices para assistência circulatória, assistência artificial, entre outros equipamentos.
Qualificação de recursos humanos
O apoio da FAPESP inclui, ainda, bolsas de pós-doutorado, de treinamento técnico e de iniciação científica. Três bolsistas de pós-doutorado, por exemplo, estão envolvidos no projeto do coaguchek. Um deles, com formação na área de engenharia eletrônica, desenvolve o algoritmo que vai mensurar a coagulação e o circuito eletrônico para a medição da reação de coagulação, além de implementar as rotinas do software embarcado no equipamento.
Bolsistas de pós-doutorado também investigam o uso de proteínas recombinantes em modelos em culturas celulares e analisam informações genéticas de pacientes com o objetivo de desenvolver biofármacos ou aumentar a eficácia do tratamento com medicamentos já disponíveis. Projetos de pesquisa e estudos clínicos envolvem ainda várias bolsas de capacitação técnica e de iniciação científica.
Difusão do conhecimento
“Somos um instituto de pesquisa com credibilidade. Desenvolvemos anualmente mais de cem protocolos médicos na área cardiovascular e estamos entre os 50 melhores hospitais nesta especialidade em todo o mundo”, diz Feres.
Criado em 1954, o Dante Pazzanese mantém programa de Residência Médica em cardiologia e cirurgia cardiovascular. “Temos, atualmente, 230 residentes”, conta o diretor do Instituto.
Mantém, ainda, programas de formação em diversas áreas médicas e paramédicas. Esses programas foram reforçados, agora, com a conclusão do projeto de modernização da biblioteca, com 12 computadores, e a instalação de auditórios com recursos multimídia. “Isso nos permite oferecer cursos a distância sobre temas ligados à cardiologia e difundir conhecimento”, afirma Feres. Os cursos são semanais e têm, em média, 2 mil pessoas inscritas.