Obra apoiada pela FAPESP analisa esforços de atingidos em busca de reparação ao longo de quase dez anos (imagem: José Cruz/Agência Brasil via WikiMedia Commons, 2017)
Publicado em 18/06/2025
Agência FAPESP – A partir dos relatos de pessoas atingidas pelo rompimento da barragem de rejeitos de minério de ferro de Fundão, em Mariana (MG), Gabriela de Paula Marcurio, doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), conseguiu acompanhar os desdobramentos do maior desastre socioambiental do Brasil.
Marcurio detalha os achados em seu livro recém-publicado, A máquina do terror: a luta das pessoas atingidas pelo desastre da Samarco em Mariana (EdUFSCar, 2025). Financiada pela FAPESP, a obra analisa especialmente os esforços dos atingidos da comunidade de Paracatu de Baixo, subdistrito do município de Mariana, em busca da reparação justa e integral dos seus direitos violados pelas empresas ao longo de quase dez anos.
“Para examinar o processo de reparação de perdas e danos provocados pelo desastre da Samarco [Vale/BHP], busquei descrever a rotina de pessoas atingidas da comunidade de Paracatu de Baixo após serem deslocadas compulsoriamente de seu território”, conta a doutoranda da UFSCar para a Agência FAPESP. “Em pesquisa de campo, observei como as atingidas e os atingidos foram submetidos a aparatos técnicos e jurídicos que estabeleciam os termos da reparação aos moldes das empresas mineradoras, prolongando e multiplicando os danos à comunidade.”
Segundo Marcurio, para reivindicar seus direitos, os atingidos se organizaram em luta, aprendendo a manejar essas formas técnicas e a elaborar seus próprios documentos com o auxílio da assessoria técnica independente da Cáritas Brasileira, regional Minas Gerais. “Desse modo, tentam fazer valer sua memória, relatando a forma de vida que foi completamente alterada, em busca de reconhecimento e justiça”, destaca.
O livro se divide em três capítulos: o primeiro trata do controle que as mineradoras passaram a exercer sobre a vida das pessoas atingidas desde o rompimento da barragem; o capítulo dois examina a luta por reparação por meio de documentos que contrastam as propostas das mineradoras com as reivindicações dos atingidos; e, finalmente, o capítulo três mostra as implicações do desastre para a noção de comunidade, conforme os relatos das pessoas atingidas de Paracatu de Baixo.
“Dessa análise, fica evidente a precariedade do processo de reparação conduzido pelas empresas mineradoras, vitimizando seguidamente as comunidades atingidas. Concluo que a memória é uma importante ferramenta de luta que atualiza a comunidade diante dos conflitos com as mineradoras, na tentativa de retomar seu modo de viver”, diz a doutoranda.
A obra é fruto da pesquisa de mestrado de Marcurio, orientada pelo professor Jorge Luiz Mattar Villela, da UFSCar, com bolsa da FAPESP.
A autora comenta que a publicação é voltada para o público geral, mas pode interessar especialmente pesquisadores que se dediquem a temas envolvendo mineração, reparação, comunidades rurais e estudos da memória.
O livro tem 240 páginas e pode ser comprado por R$ 67,92 pelo site da Editora da UFSCar (EdUFSCar).