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Livro reúne conhecimento mais recente sobre cupins da América do Sul


Livro reúne conhecimento mais recente sobre cupins da América do Sul

Soldado de Cornitermes cumulans em São Paulo. Com cerca de 3 mil espécies no mundo e mais de 600 na região Neotropical, uma diminuta fração dos cupins é considerada praga (foto: Tiago Carrijo/CCNH-UFABC)

Publicado em 14/10/2025

André Julião | Agência FAPESP – Os cupins são mais conhecidos como pragas urbanas, mesmo que apenas cerca de 3% das espécies sejam as responsáveis pela má fama – no Brasil, as principais são exóticas. O que poucos sabem é que esses insetos sociais – que são mais aparentados das baratas do que das formigas – contam com quase 3 mil espécies, 623 apenas na região Neotropical, e exercem funções ecológicas importantes, como a ciclagem de nutrientes e o aumento da retenção de umidade no solo.

Ao compilar o conhecimento mais atual sobre os diversos aspectos desses animais, um grupo de 58 pesquisadores do Brasil, Chile, Colômbia, Venezuela, Bélgica, França e Estados Unidos deu origem a uma obra monumental, com 879 páginas. Dos 29 capítulos de Cupins da América do Sul, pelo menos oito são resultados de pesquisas apoiadas pela FAPESP.

“A ideia surgiu da necessidade de ter uma literatura que congregasse a biologia de cupins de forma geral, mas com foco na América do Sul, uma vez que o livro referência mais novo é de 2002, e ainda assim trata apenas dos cupins-praga. O objetivo era ter uma obra de fácil acesso à literatura internacional sobre o assunto, principalmente para graduandos e pós-graduandos”, conta Ives Haifig, professor do Centro de Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do ABC (CCNH-UFABC), em Santo André.


Biomassa de cupins na Terra é equivalente à dos humanos; na foto, um cupim Dentispicotermes (Amitermitinae), em Mato Grosso (imagem: Tiago Carrijo/CCNH-UFABC) 

O pesquisador teve auxílio da FAPESP no projeto “Consequências da perda dos soldados na imunidade social em cupins (Isoptera: Termitidae)”, além de ter contado com bolsas de doutorado direto e pós-doutorado.

Haifig é um dos três editores da obra, juntamente com Alberto Arab e Tiago Carrijo, professores na mesma instituição.

O livro é resultado de um workshop ocorrido em 2019 durante o V Simpósio de Termitologia, ramo da biologia que estuda os cupins. No evento, ao constatar a necessidade de uma publicação do tipo, foram definidos os temas dos capítulos, autores e prazos.

“Então veio a pandemia de COVID-19, o que complicou bastante a produção da obra, com alguns capítulos ficando prontos antes de outros”, explica Haifig. O livro finalmente foi lançado neste ano, durante o VIII Simpósio de Termitologia, realizado em Campina Grande, no campus da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

Pragas são minoria

A biomassa de cupins na Terra é equivalente à dos humanos, o que por si só já seria digno de investir no conhecimento sobre esse grupo. Entre suas peculiaridades, são considerados engenheiros ecossistêmicos, uma vez que criam ou alteram hábitats para outras espécies ao causarem mudanças na estrutura física e química do ambiente.

“Os cupins são os principais decompositores de biomassa vegetal do solo, além de serem repositórios de carbono, uma vez que 40% do carbono que consomem como alimento fica no corpo, o que resolve uma parte da emissão de gases de efeito estufa. Por outro lado, emitem metano”, explica Arab, que coordenou o projeto “Efeito da dieta na diversidade bacteriana do trato digestivo de cupins (Termitidae)”, apoiado pela FAPESP.

A emissão de metano, por sua vez, é resolvida em parte por arqueias metanotróficas, microrganismos que consomem esse potente gás de efeito estufa e o transformam em CO2, menos perigoso.

“A atividade deles permite ainda a infiltração da água no solo em situações de enchentes. Por sua vez, na seca eles trazem umidade do solo mais profundo para mais perto da camada onde ficam as raízes das plantas”, completa.


À esquerda, ninhos de Cornitermes em pastagem (Tocantins): solos em áreas com cupinzeiros retêm mais umidade do que em outras sem essas formações; à direita, ciclo de vida da espécie Cornitermes cumulans (Syntermitinae) (imagens: Tiago Carrijo e Wikitermes)

Os pesquisadores lembram que a imensa maioria das espécies não são pragas. No Brasil, estas são basicamente espécies urbanas consumidoras de madeira, trazidas do Chile, Peru e da Ásia. No seu ambiente de origem, a espécie asiática controla espécies arbóreas, aumentando a diversidade nas florestas. Aqui, se adaptaram ao ambiente urbano sem competidores e predadores, causando grandes prejuízos.

Para explicar esses conceitos e a importância do grupo de insetos, os pesquisadores acreditam na importância da comunicação sobre os cupins com o público leigo. Carrijo, o terceiro editor da obra, dedica um capítulo especial à divulgação científica. O professor da UFABC usa como caso de estudo o projeto Wikitermes, do qual é um dos fundadores e que disponibiliza materiais e informações sobre os mais diversos assuntos relacionados aos cupins, tanto em seu site quanto em redes sociais e atividades em escolas.

“Temos tido feedbacks muito positivos dos materiais produzidos pelos alunos e, veja, eles não são especialistas em cupim e não são jornalistas científicos.[...] A associação de teoria [...] e uma constância de produção faz com que encontremos caminhos de comunicar determinada informação”, escreve Carrijo no capítulo assinado com Joice Paulo Constantini, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP).

Carrijo teve apoio da FAPESP no projeto “Apicotermitinae (Blattaria, Isoptera, Termitidae) da região do alto Rio Madeira, Rondônia: taxonomia e dimensões da diversidade”.

O livro está disponível gratuitamente para download em: editora.ufabc.edu.br/downloads/download/5-livros-em-pdf/68-cupins-da-america-do-sul.


Tiago Carrijo (UFABC) coletando cupins na Amazônia: insetos convivem com uma série de outras espécies em seus ninhos (foto: Renato Machado)

Fonte: https://agencia.fapesp.br/56123