Uma das salas virtuais mais concorridas do Second Global Forum of Funders enfocou os desafios e as oportunidades de colaborações multilaterais em pesquisa voltada para ação no campo da mudança climática global (foto: Andreas Weith/Wikimedia Commons)
Publicado em 12/05/2021
José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – Uma das salas virtuais mais concorridas no terceiro e último dia do Second Global Forum of Funders (28/04) teve foco nos desafios e oportunidades de colaborações multilaterais em pesquisa voltada para ação no campo da mudança climática global.
A apresentação foi feita por Anand Patwardhan, pesquisador da University of Maryland, nos Estados Unidos, e copresidente da Adaptation Research Alliance (ARA), uma coalizão de pesquisadores, financiadores de pesquisas e financiadores de ações que objetiva acelerar os investimentos em pesquisa para adaptação e resiliência em países em desenvolvimento.
Às vésperas da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 26), a ser realizada em Glasgow, na Escócia, em novembro, o cenário, segundo Patwardhan, é bastante desfavorável, com subinvestimento em pesquisa orientada a missão; desconexão entre a pesquisa e as necessidades dos mais vulneráveis; falta de alinhamento entre as diferentes iniciativas e barreiras institucionais; pouca coerência e coordenação em pesquisa adaptativa; capacidade limitada em comunidades e países em desenvolvimento; e falta de métricas para avaliar os resultados.
Esse é o quadro que, juntamente com outras iniciativas, a ARA espera reverter, por meio de planejamento e cooperação, mobilização de recursos e entrega de resultados. “O objetivo é reduzir os riscos climáticos e construir resiliência; implementar o acesso a financiamentos para adaptação à mudança climática; e aumentar a capacidade de os países em desenvolvimento utilizarem pesquisa que promova adaptação local e soluções de resiliência”, disse Patwardhan.
Jean Ometto, que integra a coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), sublinhou a necessidade de agregar as comunidades locais desde o início do plano de pesquisa; a importância de motivar os agentes privados, que, no Brasil, por exemplo, ainda têm uma participação bem abaixo de suas possibilidades; e chamar as gerações mais jovens a contribuir com seu entusiasmo e energia.
Ação para mudar o jogo
Em seu painel de conclusões Heide Hackmann, diretora executiva do International Science Council (ICS), enfatizou a importância de reunir regularmente o Global Forum of Funders como uma plataforma aberta para congregar diferentes tipos de financiadores: públicos, privados, filantrópicos e agências internacionais de ajuda ao desenvolvimento. O objetivo é facilitar a deliberação sobre tendências emergentes, prioridades e novas iniciativas; a troca de informações estratégicas, ideias e experiências sobre as melhores práticas; e a identificação e promoção de novas oportunidades de parceria.
“Mas o Fórum precisa ser mais do que um palco de conversas. Deve servir como uma comunidade de propósito comum, comprometida em trabalhar com a comunidade científica internacional e outras comunidades interessadas, para convocar, ajudar a moldar e apoiar ações baseadas na ciência para mudar o jogo rumo a transformações de sustentabilidade global”, disse.
A expressão “ação para mudar o jogo” foi o fio condutor das várias discussões nos três dias do Fórum. Ao explicitar as características dessa ação, Hackmann destacou: reconhecer e resolver as falhas do sistema de financiamento da ciência e da própria ciência; ser global no escopo, equitativa nas parcerias que promove e orientada a missão; habilitar a ciência transformadora; aproveitar e agregar valor às iniciativas políticas e científicas de sustentabilidade existentes; ser ousada em suas ambições de mobilização de recursos; estar livre de interesses particulares, seja em nível individual, institucional ou nacional; convocar uma coalizão de mudança das várias partes interessadas; ser defendida nos mais altos níveis de liderança política. E, por último: ser implementada rapidamente.
“O quadro para ação global, apresentado ao Fórum, fornece um ponto de partida útil e apropriadamente ousado, um plano adequado para o tipo de ação para mudar o jogo que temos em mente. Mas há trabalho a ser feito, com base nas contribuições valiosas feitas durante o próprio encontro, para elaborar e aprimorar essa estrutura”, afirmou a diretora executiva.
E apontou os tópicos a serem desenvolvidos: O que torna esse quadro único? Qual é o valor agregado? Como ele difere e se relaciona com outras iniciativas internacionais, como a Future Earth? O modelo institucional de “centros de missão” é apropriado? Que mecanismos alternativos de apoio a missões devem ser considerados? Que tipo de modelo de financiamento seria necessário? Qual seria o papel e a responsabilidade dos financiadores da ciência? Quem mais precisaria ser contratado? Qual seria o indicador do sucesso?
“Queremos identificar e trazer lideranças políticas relevantes, que estejam dispostas a trabalhar conosco, com a ciência global e as comunidades de financiamento da ciência, para projetar e entregar o que essencialmente terá que ser uma campanha e um plano de ação concreto, compatíveis com o desafio que enfrentamos”, sublinhou Hackmann.
Confira também os debates do primeiro e do segundo dia do Second Global Forum of Funders.