Rogez (UFPA) integra o projeto “Inov’Açaí”, apoiado pela FAPESP no âmbito da Iniciativa Amazônia+10, voltado a construir com as populações ribeirinhas conhecimento, inovações e políticas para assegurar a sustentabilidade da produção comunitária (foto: Elton Alisson/Agência FAPESP)
Publicado em 17/11/2025
Elton Alisson, de Belém | Agência FAPESP – A atual safra do açaí (Euterpe oleracea) teve uma queda de 30% a 40% e o preço de um cesto (paneiro) do fruto saltou de R$ 50 no ano passado para R$ 80 este ano, ainda que a demanda tenha caído com a sobretaxa na exportação para os Estados Unidos, principal importador do produto.
A razão foi uma combinação dos impactos da seca que aconteceu na Amazônia no ano passado com um fenômeno chamado de “açaização”, caracterizado pela substituição do plantio sustentável de várias espécies de frutos em monocultura de açaí.
Um dos maiores especialistas mundiais em açaí e um dos cientistas que mais contribuíram para o sucesso comercial do fruto ao desvendar suas propriedades nutricionais e bioquímicas, Hervé Rogez, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), alerta que o fenômeno tem causado diversos impactos sociais, ambientais e econômicos na Amazônia e contribuído para exacerbar os impactos das mudanças climáticas na produtividade do fruto.
O pesquisador belga concedeu uma entrevista para a Agência FAPESP após participar na sexta-feira (14/11) de um painel sobre sociobioeconomia na Amazônia durante o World Climate Summit, que aconteceu na capital paraense paralelamente à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30).
Rogez integra um projeto batizado “Inov’Açaí”, apoiado pela FAPESP no âmbito da Iniciativa Amazônia+10, voltado a construir em conjunto com as populações ribeirinhas conhecimento, inovações e políticas para assegurar a sustentabilidade da produção comunitária na bioeconomia amazônica.
Agência FAPESP – O senhor vem chamando a atenção para um fenômeno nocivo para o desenvolvimento sustentável da cadeia de produção do açaí na Amazônia, chamado “açaização”. Quando esse processo começou e qual foi a consequência direta dele?
Hervé Rogez – A cadeia do açaí é tradicional na Amazônia, porém evoluiu fortemente em termos de comercialização, de mercado, quando descobrimos seu valor nutricional. Por volta de 1997, o fruto passou a ser conhecido em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais no país e no mundo. No começo, o crescimento comercial do açaí foi muito agressivo, de 70% por ano, depois 30% e foi diminuindo, mas continua sendo um mercado muito importante. Hoje, a cadeia produtiva do açaí movimenta R$ 1,5 bilhão por ano, sendo um terço disso proveniente do mercado nacional. Nesse contexto, é claro que houve um aumento do preço porque a procura foi muito mais rápida do que a oferta. A consequência disso, em termos ambientais, foi que muitos agricultores tenderam a fazer o que chamamos de “açaização”, que é o processo de transformar o plantio sustentável de várias espécies, de multiculturas, em quase monocultura de açaí. E o açaí, antes de mais nada, é um alimento popular, regional, mas essencial na segurança alimentar dos povos ribeirinhos. A partir do momento que o fruto se torna muito caro, começamos a ver o surgimento do paradigma dos agricultores usarem o dinheiro obtido com a venda do fruto para comprar enlatados, tipicamente carne enlatada, ou produtos industrializados. Isso tem causado problemas de desnutrição infantil, que é algo que não tínhamos antes.
Agência FAPESP – Por que a produção de açaí tem caído com a “açaização”?
Rogez – Os impactos desse fenômeno são múltiplos. O mais importante, e que os agricultores não se dão conta, é que, ao fazer isso, a produtividade por pé de açaí, por açaizeiro, cai. E cai simplesmente porque o açaí, como muitas plantas, precisa de abelhas e os polinizadores, que são principalmente abelhas sem ferrão, não são adaptadas a poder ter acesso a alimento durante dois a três meses por ano e passar fome o resto do ano. Elas não são como a Apis, as abelhas africanas, que armazenam alimento. As abelhas da Amazônia evoluíram em um ambiente onde sempre teve biodiversidade. Se não tem mais, elas vão morrer e a produtividade do açaí cai muito, depois. Constatamos que a produtividade do açaí cai mais da metade. É muito expressivo. Quando recolocamos o açaí com outras espécies de plantas e reinduzimos a polinização, a produtividade é retomada. Outro impacto é a piora na distribuição de renda, porque o lucro do produtor é grande durante a safra dos frutos, que dura três meses. Nesse período de opulência, em que eles ganham muito dinheiro, porque o fruto é muito caro, as famílias vivem bem e compram bens de consumo não essenciais. Mas, alguns meses depois, elas passam a depender de seguro para pesca, de programas de assistência social, porque não têm mais dinheiro. Então, esse problema de falta de rendas complementares no resto do ano é importante para essas famílias. Quando elas tinham outras opções de produtos agroecológicos, com uma maior biodiversidade, por mais que vender murumuru não desse tanto dinheiro, garantiam uma renda extra. Vender camarão, entre abril e maio, também era ótimo porque a colheita do açaí vem logo depois, entre julho e outubro, de acordo com a localização. E depois tinha a colheita do tucumã, do meriti, ou seja, tinha um rodízio de culturas anualmente. Essa falta de outras culturas, em razão da “açaização”, se torna visível. É triste ver famílias revendendo suas coisas, como motores de barco, que compraram há poucos meses e estão novinhos, porque têm que pagar remédio ou tiveram algum imprevisto, um problema de saúde, e aí têm de se desfazer de suas coisas porque não têm dinheiro.
Agência FAPESP – E os impactos ambientais?
Rogez – A “açaização” causa, por exemplo, uma aceleração da erosão do solo. Em sistema de monocultura, a erosão é muito mais rápida do que quando é consorciado porque as outras espécies retêm muito melhor a argila nas suas raízes do que as monocotiledôneas [grupo de plantas com flores (angiospermas) que se distinguem principalmente por terem apenas uma primeira folha embrionária, o cotilédone], como as palmeiras, que não são tão eficientes para isso. O açaizeiro retém, mas mal. Por isso há muitos ribeirinhos que estão com problemas de erosão em seus lotes e reclamam que nunca isso foi tão forte. Os mais velhos falam que nunca tinham visto esse fenômeno. O aumento do nível dos oceanos aqui no estuário, por mais que seja de 40 centímetros, quando há uma maré cheia lixivia muito mais, leva para o oceano muito mais argila do que o normal, e aí a erosão vai acelerar. Além disso, hoje é mais comum que os barcos utilizados na Amazônia sejam movidos a motores. Há 30 anos ainda tinha muita, mas hoje é difícil você ver uma embarcação a remo. Isso também contribui para aumentar a erosão. E aí, com a “açaização”, o ecossistema não está mais preparado. A “açaização” também diminui a disponibilidade de alimento para o camarão. Hoje, os pescadores reclamam que o camarão está muito miudinho, que não tem mais camarão graúdo, mas para engordar e crescer o camarão precisa de uma alimentação boa. Essa alimentação boa vinha das frutas do ecossistema, que não foram preservadas. Então, o camarão tem menos alimento disponível. Isso também tem impactos na saúde. Há mais casos hoje de doença de Chagas, que aumentam desde o primeiro diagnóstico da presença do barbeiro transmissor da doença no açaí, em 2006. O número de casos aumentou desde essa época. Tivemos em uma década, mais ou menos, 150 casos por ano. Agora estamos vendo mais de 250 casos por ano. Foi aumentando pouco a pouco. E ainda não chegamos ao ponto de saturação da “açaização”. Felizmente, a maioria das populações se deu conta disso e voltou a plantar outras espécies. Conheço comunidades que já estão diversificando o plantio em vários municípios. Trabalhamos nessa direção também, mas ainda não chegamos ao equilíbrio. Ainda continua existindo uma pressão sobre barbeiros, que entram na cadeia produtiva do açaí e, com isso, transmitem a doença.
Agência FAPESP – Nesse sentido, os impactos da “açaização” têm sido exacerbados pelas mudanças climáticas?
Rogez – Fortemente. Agora estamos em plena safra e o valor do paneiro de açaí, arredondando, está entre R$ 70 e R$ 80. No ano passado estava R$ 50 e, em anos anteriores, em torno de R$ 35, R$ 40. E a demanda não aumentou. Na verdade, encolheu porque até os Estados Unidos, por exemplo, não estão quase mais importando. A verdade é que a produção caiu muito e as palmeiras – não apenas o açaí – acusam o prejuízo de uma seca no ano seguinte ao que o fenômeno ocorreu. No ano passado, por exemplo, as chuvas voltaram em novembro depois de três meses de seca. Foi algo que eu nunca vi. Durante três meses teve sol de rachar, céu azul, e acompanhei as palmeiras de açaí lutando para não ressecar, para não sacrificar os frutos do ano passado. A exemplo do que outras palmeiras fazem, os açaizeiros sacrificaram o embrião do novo cacho que nasceria para este ano. Dentro da coroa, que a gente chama, em cima da palmeira onde tem o palmito, há o embrião do que em fevereiro, março do ano seguinte vai dar uma inflorescência. O cacho vai nascer, ter flores e depois os frutos. Esse pequeno cacho é sacrificado com a seca porque a árvore não tinha água e precisava nutrir os frutos do ano passado. Por isso, resolveu priorizar os que já estavam crescidos e sacrificou os do ano seguinte, como as outras palmeiras fazem. Por isso, este ano tivemos uma queda de produção importante, entre 30% e 40%, que é muito em termos de mercado, e o preço aumentou. O resultado disso também foi que o preço do suco de açaí ficou altíssimo para populações ribeirinhas, para populações vulneráveis, que passaram a fazer uma água de açaí quando despolpam o fruto. Elas passam a diluir muito porque está tão caro que não dá para tomar um açaí mais grosso. E na água, lógico, tudo é diluído, como as proteínas, as fibras, o óleo e o valor nutricional. Isso é uma aberração em termos de segurança alimentar, chegarmos a esses paradoxos. Mas, claramente, isso é devido às mudanças climáticas. Foi um efeito bumerangue da seca do ano passado.
Agência FAPESP – A “açaização”, então, incorporou o modelo de produção e está repetindo os mesmos erros do agronegócio?
Rogez – Há uma série de exemplos desse tipo no agronegócio. Tem muitas monoculturas que acabam com o ecossistema, depois não tem mais pássaros, não tem mais biodiversidade. O agro, no modelo ocidental, segue muito essa lógica. Já as populações tradicionais nunca fizeram monocultura. Elas sempre faziam cultivos sustentáveis. Passaram a aplicar ao açaí o que o agro estava fazendo, com o efeito bumerangue que a gente viu que é múltiplo. Tiveram vários efeitos bumerangue. Os produtores pagam o preço disso pela doença de Chagas, pela erosão de suas terras, pela falta de distribuição de renda. Isso realmente é um preço caro que pagam pelo êxito do açaí. E aí nós trabalhamos para sensibilizá-los. Conheço tanto agricultores pessoas físicas como comunidades e cooperativas que são bem-sucedidos, que sabem fazer um manejo bem feito, não têm problema com camarão, de distribuição de renda e conseguem processar. É sempre nesses exemplos que a gente se espelha para contaminar outras comunidades e sensibilizar e reverter esse processo, porque é reversível. Onde se replantam virolas, andirobas, tucumã, em três anos já tem uma resposta positiva expressiva. Os polinizadores, por exemplo, voltam e aí rapidamente já se tem uma produtividade melhor e os açaizeiros passam a entender que, na verdade, é muito melhor do que estava antes em termos de produção. E o agro não pensa dessa forma. Como plantam milho, cana-de-açúcar e outras culturas que não precisam de abelha, eles não estão nem aí. Já para a fruticultura as abelhas são essenciais. Então, esse modelo ocidental de agricultura não pode ser copiado e colado porque não funciona. É preciso copiar e colar o modelo dos povos tradicionais e não o modelo importado, que não está certo.
Agência FAPESP – Quais são os objetivos do projeto que o senhor conduz no âmbito da Iniciativa Amazônia+10 para fazer frente a esse processo de açaização e de buscar soluções para essas comunidades adaptarem seus sistemas de produção às mudanças climáticas?
Rogez – O primeiro objetivo é verificar qual a percepção e o conhecimento das populações sobre as políticas públicas existentes para a formação do preço do açaí, porque muitos vendem barato e passam para atravessadores – tipicamente barqueiros –, que aumentam muito o valor do produto antes dele chegar nas cidades, a um preço muito maior. Então, a ideia é avaliar o nível de acesso delas a essas informações e a programas como o PNAE [Programa Nacional de Alimentação Escolar] e o PAA [Programa de Aquisição de Alimentos], que permitem, por exemplo, que parte do açaí seja consumida na merenda escolar – porque é um alimento seguro, que as crianças amam e é saudável –, juntamente com a farinha d’água, que também é local, regional e um alimento muito saudável. Assim, a primeira parte do projeto aborda várias políticas públicas e também perguntamos para as populações, por meio de um questionário, se elas trabalham de forma associada ou cooperada ou se costumam trabalhar de forma isolada. Isso é importante sabermos porque elas vêm sofrendo não só os impactos das mudanças climáticas, mas de problemas como erosão do solo e a falta de acesso à água potável quando a Amazônia passa por períodos de secas prolongadas que não existiam antes. Por isso, é importante entendermos melhor quanto as populações estão preparadas para agirmos juntos e construirmos respostas conjuntamente. Para isso, trabalhamos na maior zona de produção do açaí, que é o Baixo Tocantins, na parte de pesquisa de campo, e também desenvolvemos soluções parciais para esses problemas.
Agência FAPESP – Pode dar um exemplo de resposta que tem sido construída conjuntamente por meio do projeto?
Rogez – Em uma das vertentes do projeto, trabalhamos no desenvolvimento de uma solução junto às populações, em particular com jovens, em que os ensinamos a usar drones. Compramos três pequenos drones para serem usados de forma itinerante nas três microrregiões de atuação do projeto e ensinamos jovens de ensino médio a utilizá-los para fazer uma varredura completa de suas próprias propriedades ou a de vizinhos, mediante a assinatura de um termo de consentimento. Por meio dessa solução, eles podem transferir as imagens para o celular e saber diretamente qual o percentual de açaizeiros naquelas áreas em relação às outras espécies. Isso permite que tenham um diagnóstico rápido da biodiversidade que ainda tem nos lotes deles. Para nós, isso também é uma forma de permitir que esse instrumento, que os jovens adoram, possa ser empregado a favor do desenvolvimento sustentável. Ao acompanhar essas imagens de ano em ano será possível que, mais adiante, possamos ensiná-los a reconhecer o problema de saúde das árvores em função de seca, pragas e de salinização, que já está começando a aparecer. Isso não faz parte do projeto atual, mas nosso conceito é demonstrar a importância de já começar a trabalhar com jovens do ensino médio e termos alguns exemplos para depois, eventualmente, poder criar um programa com a Secretaria Estadual de Educação, por meio de um police brief [documento para propor soluções públicas a tomadores de decisão].
Agência FAPESP – Além da construção de conhecimento conjunto e de políticas públicas, vocês também pretendem desenvolver durante o projeto inovações tecnológicas que possam ser incorporadas na cadeia de bioeconomia do açaí. Quais soluções pretendem criar?
Rogez – Pretendemos desenvolver, a partir do caroço de açaí, produtos, como biofloculantes [materiais que agem aglutinando partículas para facilitar a purificação de água e outros processos industriais], carvão ativado [para adsorver toxinas, produtos químicos e poluentes do ambiente] e o biogás [combustível renovável gerado pela decomposição de matéria orgânica]. A ideia é que o retorno econômico desses produtos para as populações já pague o investimento feito na compra de alguns reagentes e de energia elétrica que são necessários para gerá-los. Trabalhamos com base em preceitos de economia circular para desenvolver uma forma de operação nula, porque trabalhamos com cooperativas e associações que já comercializam polpa e outros resíduos. Nula significa para nós desenvolver um processo que tem que se pagar, que não pode ter prejuízo, senão não terá continuidade. Por isso, otimizamos o processo de produção dos biofloculantes, carvão ativado e biogás para ter uma operação nula no final. Com isso, os agricultores vendem o fruto e sabem que os caroços não são desperdiçados, mas que vão voltar para eles bioprocessados, na forma de biofloculante, carvão ativado e biogás. Dessa forma, conseguirão ter água potável, de qualidade. Esse projeto está em desenvolvimento. Em termos de maturidade tecnológica [TRL, na sigla em inglês], estamos saindo do 2 para o 3 e, agora, pretendemos escalonar. Terminamos o projeto em escala de bancada e agora, no ano que vem, vamos para o escalonamento, para poder fazer a transferência desses processos para cooperativas e associações.
Agência FAPESP – O açaí é apontado como o primeiro exemplo bem-sucedido de um bioativo da Amazônia que contribuiu para impulsionar a sociobieconomia na região amazônica. Nesse sentido, ele pode dar lições de problemas que devem ser evitados na tentativa de desenvolvimento de outras cadeias produtivas na Amazônia?
Rogez – O açaí é o primeiro, mas não é único. Além do açaí, eu também trabalho muito com cacau, e temos as mesmas experiências. Eles não estão presentes nas mesmas microrregiões. O cacau é produzido na Transamazônica, na região de Altamira, no oeste do Estado do Pará, e nos municípios dessa região muitos agricultores estão tendendo a fazer monocultura de cacau. Eles alegam que a terra é boa para o cacau e que os outros vizinhos plantam cacau também. E aí a gente também enxerga vários paradoxos e temos trabalhado com eles para entender a importância de manter a biodiversidade. Os problemas não são os mesmos. Lá é mais questão de vassoura-de-bruxa, de pragas, porque quando se tem biodiversidade elas atingem muito menos as plantações do que em sistemas de monocultivo. Mas os erros são os mesmos e as soluções também. Em termos de bioeconomia, o cacau é a segunda cadeia mais importante depois do açaí, movimentando R$ 1,2 bilhão, e o Pará já é o maior produtor nacional. Já passou à frente da Bahia há uns sete anos. E a terceira cadeia de bioeconomia mais importante do Estado é a castanha, que sofre um efeito das mudanças climáticas bárbaro. A redução da produção da castanha-do-pará tem sido de mais da metade. Quando se olha a castanheira, ela está linda, preservada, porque não pode ser derrubada, mas muitas vezes há queimadas na proximidade dela e o sistema hídrico não foi mantido próximo à árvore. A castanheira, geneticamente falando, não evoluiu no sistema pseudosseco de solo, e aí com a série de secas como as que ocorreram nos anos retrasado e passado, com dois anos seguidos, neste ano a árvore se rendeu. As árvores não estão morrendo, mas apresentam falta de folhagem. Realmente as árvores estão muito mal e aí as castanhas, fatalmente, ficam muito menos numerosas e, com isso, apresentam queda de produção também. Isso tem acontecido mesmo em reservas extrativistas, em Resex. Os povos indígenas também têm acusado a queda na produção de castanha-do-pará. Ou seja, a falta de chuva realmente repercutiu, principalmente quando elas estão isoladas. Mesmo em sistema consorciado, de floresta ainda preservada, elas também estão em queda de produção. Então é uma cadeia produtiva tradicional da região Norte que se estende até o Acre e que nos remete também à busca por soluções.
Agência FAPESP – Quais soluções têm sido estudadas?
Rogez – Estamos pesquisando, por enquanto, tudo o que é voltado para a irrigação natural. Há sistemas reticulados disponíveis hoje, semelhantes a esponjas, para reter a umidade mais tempo no solo ou aumentar a cobertura vegetal ou para diminuir a incidência do sol no solo, além de várias alternativas. Eu acho que isso vai ser cada vez mais importante. Temos que realmente mitigar os efeitos de mudanças climáticas. As minhas motivações principais são os povos tradicionais e meus filhos. Da mesma forma que estou preocupado com meus filhos, também fico preocupado com a atual geração dos jovens. São eles que vão ter que lidar no dia a dia com isso. Assim como temos que aprender a comer melhor, temos que aprender a cultivar melhor.