Modelo desenvolvido por startup apoiada pelo PIPE-FAPESP monitora também a segurança de fotoprotetores e produtos antienvelhecimento em condições muito próximas da realidade (foto: Eleve Science/divulgaçao)
Publicado em 19/04/2021
Eduardo Geraque | Agência FAPESP – Uma plataforma baseada em pele tridimensional (3D) desenvolvida pela startup Eleve Science, incubada no Supera Parque de Inovação e Tecnologia de Ribeirão Preto, pode ajudar a indústria de cosméticos a realizar testes de avaliação da eficácia e segurança de fotoprotetores e produtos antienvelhecimento em condições muito próximas da realidade e eliminar o uso de animais.
Criada por meio de um projeto apoiado pelo Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), a plataforma é composta por uma estrutura de, aproximadamente, dois centímetros de diâmetro onde células derivadas de tecidos humanos crescem camada sobre camada, formando um modelo de pele em escala tridimensional.
“O modelo de pele criado é completo, ou seja, composto pelas duas principais camadas do órgão, que são a derme e a epiderme, e com melanócitos [células produtoras de melanina, responsáveis pela pigmentação da pele]. Isso possibilita avaliar os efeitos da exposição solar na pele em condições muito similares às reais”, diz Ana Luiza Forte, pesquisadora responsável pelo projeto.
De acordo com a pesquisadora, a maioria das metodologias utilizadas para avaliar a eficácia de filtros solares disponíveis atualmente não permite detectar todos os danos que a radiação solar causa sobre as diferentes camadas da pele e, principalmente, as alterações biológicas em nível de DNA ou produção de radicais livres.
Os testes realizados em humanos, por exemplo, possibilitam medir se determinada quantidade de raios ultravioleta vai ou não deixar a pele vermelha após a exposição ao sol – apenas um dos efeitos causados pela radiação solar na pele.
Como o espectro da luz solar tem diferentes comprimentos de onda, desde o infravermelho até o ultravioleta, passando pelo visível, é importante conhecer todos os impactos que ela causa sobre a pele humana, especialmente no Brasil, onde os índices de radiação ultravioleta são significativos o ano todo, afirma Forte.
“Cada comprimento de onda atinge diferentes camadas da pele e causa danos também diversos. Por isso, o modelo de pele completa que desenvolvemos oferece condições de fazer testes muito mais próximos da realidade”, explica.
Outra vantagem da plataforma baseada em pele 3D é que permite realizar testes de fotoprotetores e cosméticos em diferentes tons de pele, já que o modelo é construído a partir de células derivadas de tecidos humanos de diferentes pigmentações.
“Isso é muito importante para um país como o Brasil, onde a miscigenação é grande”, avalia a pesquisadora.
Alternativa segura
De acordo com a empresa, o projeto está em fase final de validação. A expectativa é que os resultados da pesquisa cheguem ao mercado em curto prazo.
Há uma demanda emergente de novos métodos alternativos tanto do setor de cosméticos como de produtos químicos e médico-hospitalares, que estão sendo pressionados por questões regulatórias e sociais a substituir o uso de animais em estudos pré-clínicos para avaliação de eficácia e segurança. Além disso, os métodos alternativos trazem inúmeras vantagens, como a descoberta dos mecanismos de ação de um novo composto ativo, bem como podem auxiliar a diminuir a necessidade de voluntários humanos em testes de avaliação da eficácia de protetores solares, avalia Forte.
“A plataforma que desenvolvemos é uma alternativa segura e eficaz ao uso de animais em testes de produtos que entrarão em contato com a pele”, afirma a pesquisadora.