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Plataforma Científica Pasteur-USP desenvolve novos testes para a detecção de anticorpos da COVID-19


Plataforma Científica Pasteur-USP desenvolve novos testes para a detecção de anticorpos da COVID-19

Exames sorológicos de alta confiabilidade e baixo custo poderão ajudar a identificar se o indivíduo desenvolveu anticorpos neutralizantes contra o SARS-CoV-2 após vacinação ou infecção natural (imagem: Pete Linforth/Pixabay)

Publicado em 06/12/2021

Agência FAPESP* – Pesquisadores da Plataforma Científica Pasteur-USP (SPPU) estão desenvolvendo testes para detecção de anticorpos contra o SARS-CoV-2 com alta sensibilidade, menor preço e mais versatilidade que outros exames sorológicos já existentes. Os componentes desses testes foram parcialmente desenvolvidos no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e validados por pesquisadores da SPPU.

Os testes detectam os anticorpos contra o SARS-CoV-2 a partir de duas proteínas, cuja análise é feita em uma mesma placa e paralelamente. Uma delas é a Nc – presente na região c-terminal da nucleoproteína do SARS-CoV-2. “Quando a proteína Nc, utilizada no teste, entra em contato com o soro de um paciente ou de um indivíduo vacinado que tenha anticorpos circulantes, ela e os anticorpos específicos se ligam, indicando que o paciente já foi infectado pelo vírus ou que recebeu uma vacina com o vírus inativado”, explica a biomédica Ana Paula Pessoa Vilela, pós-doutoranda na SPPU e bolsista da FAPESP.

O outro alvo é um “pedacinho da” proteína spike, a responsável por se ligar ao receptor da célula humana e viabilizar a infecção. A proteína Nc é particularmente importante para identificar pessoas que foram infectadas pelo vírus, independentemente de terem tido ou não a COVID-19. Já o fragmento da proteína spike é importante também para monitorar os que foram vacinados e a possível geração de anticorpos neutralizantes induzidos tanto pela vacinação como pela infecção.

Diferenciais

“Como conseguimos fazer as duas verificações ao mesmo tempo, é possível identificar os indivíduos que tiveram contato com o vírus e a presença de anticorpos neutralizantes dirigidos contra a proteína viral que permite ao SARS-Cov-2 entrar nas nossas células, algo importante para estudos epidemiológicos”, explica Luís Carlos Ferreira, professor do ICB-USP e um dos coordenadores da SPPU.

As proteínas foram sintetizadas no ICB-USP e depois avaliadas e comparadas com testes comerciais. O trabalho tem o financiamento da FAPESP, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e do Instituto Pasteur. A SPPU testou centenas de indivíduos infectados, sintomáticos e assintomáticos para o SARS-CoV-2.

Vilela afirma que a alta sensibilidade é outro diferencial dos novos testes. “Um dos grandes problemas que percebemos nos demais testes é exatamente a sensibilidade. Às vezes, o teste é específico, mas não é muito sensível, então, não se consegue saber com certeza se o indivíduo teve ou não contato com o vírus ou foi vacinado. Já se o teste não for muito específico, mas extremamente sensível, pode-se obter respostas inespecíficas com outros patógenos diferentes do SARS-CoV-2. Por isso é preciso chegar a um equilíbrio entre especificidade e sensibilidade”, explica.

Outra vantagem é o fato de os testes terem como suporte a plataforma Elisa (acrônimo em inglês para ensaio de imunoabsorção enzimática), o que permite que vários soros sejam avaliados numa mesma placa, de modo que as duas proteínas possam ser analisadas em paralelo. Como a plataforma Elisa está disponível em qualquer laboratório de análises clínicas, o exame poderá ser de amplo acesso.

“A proteína Nc é a mais imunogênica entre os coronavírus, ou seja, ela estimula de maneira muito forte o nosso sistema imune, que produz anticorpos específicos contra ela, e tem sido usada desde o início da pandemia. O que fizemos foi avaliar dois fragmentos dessa proteína que tiveram melhor desempenho do que aquele obtido com reagentes disponíveis comercialmente”, afirma Ferreira.

Com a produção em série, foi possível selecionar as regiões da proteína que são mais bem reconhecidas pelos anticorpos gerados durante a COVID-19. “A possibilidade de produzir essas proteínas em bactérias no próprio laboratório e em larga escala reduziu o custo dos testes em relação aos métodos que utilizam fragmentos da proteína spike produzidos por células humanas em cultura”, diz Vilela.

De acordo com Ferreira, outra importância do trabalho foi dar condições para o desenvolvimento de métodos sorológicos contra doenças infecciosas e criar autonomia em relação a produtos importados de custo elevado. Por ora, os testes desenvolvidos na SPPU estão sendo utilizados para a testagem de pessoal da linha de frente e para estudos científicos envolvendo o vírus SARS CoV-2.

* Com informações da Assessoria de Comunicação da SPPU.
 

Fonte: https://agencia.fapesp.br/37496