Células plasmáticas de paciente com mieloma múltiplo: cada frasco de 60 mg do carfilzomibe custa em média R$ 6,5 mil (imagem: Erhabor Osaro/Wikimedia Commons)
Publicado em 10/08/2025
Agência FAPESP * – Um projeto pioneiro visa produzir carfilzomibe, medicamento quimioterápico para tratar mieloma múltiplo – câncer de sangue agressivo –, por um processo 30% a 50% mais rápido e barato. O desenvolvimento de uma nova rota sintética para obtenção do fármaco é resultado de parceria entre uma empresa-filha da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e spin-off do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).
O CDMF é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado na UFSCar.
Cada frasco de 60 mg do carfilzomibe custa em média R$ 6,5 mil. Em três anos – tempo estimado de tratamento –, o paciente pode gastar mais de R$ 800 mil. Segundo estudo da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 2020 a 2024 o mieloma múltiplo foi o segundo tipo de câncer de sangue mais comum no mundo. No Brasil, 45% dos casos ocorrem em pessoas acima de 65 anos.
O projeto está em fase laboratorial, com testes para escalonamento industrial, e alavancou R$ 787,5 mil em recursos da Embrapii e da spin-off. Sua conclusão está prevista para 2026.
A produção de carfilzomibe utiliza organocatalisadores, fotocatalisadores e outros materiais que aceleram reações químicas. No projeto, são avaliados catalisadores de última geração para tornar as reações mais rápidas e seletivas. Em reações de epoxidação assimétrica – etapa essencial na síntese do medicamento – tais catalisadores podem reduzir desperdícios e evitar o uso de metais no processo produtivo.
Em vez de realizar reações em soluções líquidas, o projeto utiliza um suporte sólido (como pequenas esferas de resina) para “ancorar” as moléculas durante a síntese. Isso permite construir o remédio de forma sequencial, evitando etapas demoradas de purificação. A técnica reduz o uso de solventes e simplifica o processo, cortando custos.
A substituição da síntese em fase líquida pela síntese em fase sólida, aliada ao uso de catalisadores, pode resultar em uma economia de 30% a 50% em tempo e custos operacionais. A redução se deve à menor necessidade de purificações entre os ciclos de acoplamento, maior automação – que diminui o tempo de trabalho manual –, menor demanda por solventes e reagentes e facilidade de escalonamento.
* Com informações do CDMF.