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Transição energética requer esforço global em inovação, apontam cientistas


Transição energética requer esforço global em inovação, apontam cientistas

Quase metade da redução das emissões de CO2 do setor de energia até 2050 virá de tecnologias que atualmente estão em fase de projeto-piloto ou de protótipo, sugere relatório elaborado pela Agência Internacional de Energia e apresentado durante a conferência BBEST 2020-21 (planta industrial para produção de etanol 2G em Piracicaba, interior de São Paulo; foto: Raízen/divulgação)

Publicado em 26/05/2021

Elton Alisson | Agência FAPESP – Para zerar até 2050 as emissões globais de dióxido de carbono (CO2) do setor energético, de modo a limitar o aumento da temperatura média global a 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais, como estabelecido no Acordo de Paris, o mundo precisará fazer, até 2030, um esforço sem precedentes para implantar imediatamente e de forma massiva todas as tecnologias de energia eficiente e limpa já existentes, como a bioenergia.

Paralelamente a esse esforço, será preciso um grande impulso global para acelerar a inovação em energia, uma vez que a maior parte da redução nas emissões de CO2 do setor até 2030 será possível por meio de tecnologias disponíveis hoje. Após esse período e até 2050, porém, quase metade da redução das emissões do setor virá de tecnologias que atualmente estão apenas em fase de projeto-piloto ou de protótipo, como baterias avançadas, sistemas de produção de hidrogênio e captura de CO2 do ar.

As conclusões são dos autores do relatório especial “Net Zero by 2050: a roadmap for the global energy sector”, lançado pela Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) no dia 18 de maio e apresentado por representantes do órgão em palestra na abertura da Brazilian Bioenergy Science and Technology Conference (BBEST) 2020-21.

O evento on-line, que termina hoje (26/05), faz parte das atividades do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) e ocorre paralelamente à segunda edição da Biofuture Summit, promovida pela Plataforma para o Biofuturo – consórcio formado por 20 países, incluindo o Brasil, com o objetivo de fomentar soluções de transporte de baixo carbono e a bioeconomia.

“Desbloquear a próxima geração de tecnologias de baixo carbono vai requerer muito esforço em pesquisa e desenvolvimento e investimento da ordem de US$ 90 bilhões para demonstração até 2030”, disse Paolo Frankl, líder da divisão de energias renováveis da IEA.

Segundo o especialista, para atingir a meta da transição energética global, a produção de biocombustíveis deverá triplicar nesta década para atender à demanda crescente, principalmente do setor de transporte. Já a produção de combustíveis líquidos avançados – como o etanol celulósico –, que hoje representa menos de 1% do total da produção de biocombustíveis, deve saltar para quase 45% em 2030 e para 90% em 2050.

Nesse novo cenário, a bioenergia moderna se tornaria, em 2050, a segunda maior fonte energética, sendo responsável por suprir cerca de 20% da energia total consumida globalmente. Quase oito gigatoneladas de CO2 seriam capturados por ano por uma ampla gama de soluções, que combinariam bioenergia com captura e armazenamento de carbono e, eventualmente, hidrogênio, para produzir combustíveis e produtos químicos sintéticos.

“Isso representa uma enorme oportunidade e desafio para o setor de bioenergia inovar por meio de diversas formas de tecnologias que pode oferecer”, avaliou Frankl.

Para atingir essa meta, contudo, será preciso superar desafios, como o de obter maior consenso sobre a disponibilidade de matérias-primas, de forma sustentável, para produção de bioenergia, apontou o especialista.

“Isso é fundamental para aumentar a confiança dos investidores e, em última análise, atrair mais investimentos e promover a implantação de tecnologias em bioenergia”, avaliou Frankl.

Outro desafio, segundo o pesquisador, é fortalecer a cooperação internacional. “Há um ímpeto político sem precedentes e temos pelos menos quatro motivos de otimismo em relação à transição para a energia limpa em todo o mundo”, afirmou o especialista.

Uma das razões de otimismo é que pelo menos 120 países, além de empresas, apresentaram metas de zerar suas emissões líquidas de CO2 até 2050. Há uma lacuna, entretanto, entre as promessas dos países e a realidade.

Após o maior declínio de todos os tempos, em 2020, devido à crise econômica global causada pela pandemia de COVID-19, as emissões globais de CO2 devem aumentar em quase 5% em 2021, se aproximando do pico de 2019. A demanda de carvão, óleo e gás também aumentou com a recuperação da economia.

“Por isso a IEA avaliou a necessidade desse relatório especial para ajudar os países a passar de promessas à promoção de cortes reais nas emissões”, afirmou Frankl.

Outros motivos para otimismo em relação à transição energética global é que hoje há um dos maiores pacotes de estímulo econômico para essa finalidade, e os Estados Unidos e a União Europeia anunciaram novas metas de limites de emissão de CO2 na recente Cúpula de Líderes sobre o Clima, promovida pelo presidente americano Joe Biden.

Os Estados Unidos anunciaram na abertura do evento, em abril, o compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 50% até 2030 em relação aos níveis de 2005, atingindo 100% de eletricidade limpa até 2035 e emissões líquidas zero de CO2 até 2050.

“A inovação e a implantação de uma ampla gama de tecnologias de energia limpa são absolutamente essenciais para atingir esses objetivos ambiciosos”, disse David Turk, vice-secretário de energia dos Estados Unidos, na abertura do BBEST.

O país acaba de assumir a presidência da Plataforma para o Biofuturo, presidida pelo Brasil desde seu lançamento, em 2016.

“Nos últimos cinco anos, logramos um progresso considerável na consolidação da Plataforma para o Biofuturo como o principal fórum internacional para promoção da bioeconomia sustentável como componente-chave da transição energética”, afirmou o embaixador Sarquis, secretário de Comércio Exterior e Assuntos Econômicos do Itamaraty.

Ponto de encontro da bioenergia

O BBEST reúne virtualmente representantes de governos, órgãos internacionais, setor empresarial e pesquisadores de mais de 30 países. Estão previstas mais de 150 sessões on-line durante os três dias de duração do evento.

“Ao longo dos anos, o BBEST tem sido um ponto de encontro para diferentes áreas da ciência e engenharia se encontrarem, criando sinergias em bioenergia, biomassa, biocombustíveis, uso da terra, produtos biológicos e pesquisa de sustentabilidade. Criamos oportunidades para especialistas da indústria, da academia, do governo e de instituições não governamentais apresentarem suas tecnologias e desafios”, disse Gláucia Mendes Souza professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP) e membro da coordenação do Programa BIOEN.

O presidente da FAPESP, Marco Antônio Zago, destacou que o Programa BIOEN, que visa o avanço do conhecimento básico e aplicado em áreas relacionadas à produção de bioenergia, faz parte da missão da Fundação de apoiar pesquisas que contribuam para o desenvolvimento do Estado de São Paulo.

“Vemos na conferência uma oportunidade especial para o diálogo e a cooperação entre países, governos e organizações, além dos setores acadêmico e privado”, afirmou.

A íntegra do evento pode ser acessada em https://whova.com/portal/webapp/bsi1_202105/.
 

Fonte: https://agencia.fapesp.br/35953