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Vencedor do Nobel de Química mantém colaboração com laboratório da Unicamp


Vencedor do Nobel de Química mantém colaboração com laboratório da Unicamp

O desenvolvimento de uma nova classe de catalisadores baratos e amigáveis ao meio ambiente motivou a premiação de Benjamin List, que trabalhou com pesquisador brasileiro apoiado pela FAPESP (imagem: ERC/divulgação)

Publicado em 13/10/2021

José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – Tornar a química verde – isto é, reduzir o impacto ambiental dos resíduos gerados pela indústria e pelos laboratórios – foi um dos critérios adotados pela Real Academia Sueca de Ciências para outorgar o Prêmio Nobel de Química de 2021 ao alemão Benjamin List e ao britânico David MacMillan. De maneira independente, ambos desenvolveram uma terceira classe de catalisadores. Estes não são nem metais, utilizados em larga escala em produtos comerciais como as baterias de automóveis, cujo descarte é altamente impactante para o meio ambiente. Nem enzimas, que os nossos próprios corpos e outros organismos biológicos utilizam na fabricação das moléculas necessárias para a vida.

Esse terceiro caminho, chamado de organocatálise assimétrica, baseia-se no uso de pequenas moléculas orgânicas. Compostos por um arcabouço de átomos de carbono, aos quais se agregam outros elementos químicos, como oxigênio, nitrogênio, enxofre ou fósforo, os organocatalisadores assimétricos são baratos e amigáveis ao meio ambiente (eco-friendly). São chamados de “assimétricos” porque possibilitam que a reação química produza apenas a molécula de interesse – e não sua contraparte quiral [isto é, outra molécula cuja estrutura corresponda à imagem especular da primeira, como ocorre com nossas mãos direita e esquerda]. Essa precisão é necessária para a fabricação de produtos farmacêuticos.

Colaboração duradoura

Nascido em 1968 e atualmente diretor do Max-Planck Institut für Kohlenforschung, em Mülheim-an-der-Rhur (Instituto Max Planck para Pesquisa sobre Carvão), na Alemanha, Benjamin List tem um longo histórico de colaboração com o Laboratório de Síntese de Produtos Naturais e Fármacos (LSPNF) do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (IQ-Unicamp). O brasileiro José Tiago Menezes Correia, atualmente pós-doutorando na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), trabalhou com List no Instituto Max Planck na época em que fazia seu doutorado no IQ-Unicamp, realizado com bolsa da FAPESP e orientação de Fernando Coelho, agora pró-reitor de Extensão e Cultura da Unicamp.

A estadia de Correia na Alemanha foi financiada pela FAPESP por meio de Bolsa no Exterior - Estágio de Pesquisa e resultou no artigo Catalytic Asymmetric Conjugate Addition of Indolizines to alfa,beta-Unsaturated Ketones, assinado conjuntamente por Correia, Coelho e List e publicado no periódico Angewandte Chemie International Edition.

“Desenvolvemos uma metodologia de adição catalítica de uma classe de substâncias denominadas indolizinas a cetonas insaturadas. Até aquele momento não existia na literatura relatos de estratégias de funcionalização assimétrica dessa classe de moléculas. Fomos bem-sucedidos em catalisar a reação empregando o ácido fosfórico quiral orgânico (S-TRIP), que foi um dos primeiros organocatalisadores assimétricos descritos pelo grupo de List”, diz Correia à Agência FAPESP.

Coelho acrescenta que os heterociclos nitrogenados obtidos com essa metodologia de catálise assimétrica foram utilizados como substratos para a síntese de derivados que apresentaram, em trabalhos realizados posteriormente, um bom perfil como inibidores seletivos da tubulina (proteínas que compõem os microtúbulos existentes no citoesqueleto celular), podendo ser utilizados como candidatos potenciais para o desenho de novos agentes antitumorais seletivos.

“O professor List esteve várias vezes conosco no Brasil. É uma pessoa extremamente cordial e bem-humorada. Estamos preparando mais um aluno para estagiar com ele no Instituto Max Planck”, afirma Coelho.

Esses traços de personalidade do novo “Prêmio Nobel” são confirmados por Correia. “Ao iniciar minhas atividades na Alemanha, ele me disse que o meu limite seria a minha criatividade, uma vez que a estrutura do instituto e do seu laboratório me permitiriam trabalhar com qualquer química que eu quisesse. De fato, a estrutura que ele montou no Instituto Max Planck é o ‘laboratório dos sonhos’ de qualquer pesquisador. Além disso, Ben, como todos nós o chamávamos, estava sempre com paciência e disposição para conversar sobre o andamento dos projetos”, diz.

O artigo Catalytic Asymmetric Conjugate Addition of Indolizines to alfa, beta-Unsaturated Ketones pode ser acessado em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/anie.201700513. E o informe da Real Academia Sueca de Ciências sobre o Prêmio Nobel de Química de 2021 pode ser lido em: www.nobelprize.org/prizes/chemistry/2021/press-release/.
 

Fonte: https://agencia.fapesp.br/37058