Programas semelhantes e pragmatismo da FAPESP despertaram interesse em intensificar acordos de colaboração e chamadas de propostas que envolvam centros de pesquisa suíços e paulistas (foto: Felipe Maeda/Agência FAPESP)
Publicado em 13/07/2023
Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Dirigentes da FAPESP e das três universidades públicas paulistas se reuniram com a secretária de Educação, Pesquisa e Inovação da Suíça e representantes de instituições de pesquisa, agências de fomento e de empresas do país europeu no dia 4 de julho. O objetivo do encontro foi intensificar acordos de colaboração e, sobretudo, fomentar novas parcerias.
A primeira intenção apresentada foi a de estabelecer maior interação entre centros de excelência, como é o caso dos Centros de Pesquisa em Engenharia (CPEs) e dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) da FAPESP, que apoiam pesquisa de longa duração associada a empresas ou entidades governamentais.
"Vejo que temos muitas similaridades em relação aos modelos e estruturas que utilizamos para o financiamento de pesquisas. Um exemplo são os centros de excelência que, na Suíça, são chamados de National Centers of Competence e financiados pela Swiss National Science Foundation [SNSF]. Acredito que seria interessante aproveitar essas semelhanças e, a partir disso, criar mecanismos de colaboração em pesquisa que envolvam os centros de excelência", afirmou Martina Hirayama, secretária de Educação, Pesquisa e Inovação da Suíça.
Atualmente, a FAPESP financia 22 CEPIDs para o desenvolvimento de projetos que têm duração de até dez anos. Os centros investigam temas relacionados a saúde, processos de doença, física, química, biologia e matemática. “Os CEPIDs são centros de pesquisa de excelência de longa duração, candidatos à cooperação com os centros de excelência suíços”, sublinhou Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP.
Já os CPEs são constituídos pela FAPESP em parceria com empresas ou organizações como GSK, Shell, Embrapa, Equinor, Grupo São Martinho, Koppert, IBM, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Erickson, Braskem e Embraer, além do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, com sede em universidades e instituições de pesquisa. "Seria muito interessante um programa com a Suíça envolvendo esses centros. No caso dos CPEs, são programas de dez anos de duração e o financiamento é dividido entre a FAPESP e uma empresa. No caso do CPE com a Shell, por exemplo, a empresa investiu cinco vezes mais que a FAPESP. São centros de excelência, com 20 cientistas realizando pesquisas orientadas a problemas e à busca de resultados bem definidos", ressaltou Zago.
Outro objetivo, destacado por Hirayama, é o fortalecimento do acordo de colaboração assinado em 2020 pela FAPESP e a SNSF. No total, o acordo teve quatro chamadas de propostas, que financiaram nove projetos de pesquisa. "Gostaria de entender o motivo de os números em relação a esta parceria não serem tão expressivos. Acredito que podemos intensificar essa colaboração. Também temos interesse em aumentar a colaboração em pesquisas para inovação. Na Suíça temos o programa Bridge, que faz a interação entre ciência básica e inovação", disse a secretária.
Apesar de o acordo entre FAPESP e SNSF ter resultados ainda limitados, o número de colaborações entre pesquisadores das duas partes é muito mais amplo. De acordo com os dados apresentados na reunião, há um total de 547 colaborações entre grants e fellowships, envolvendo pesquisadores paulistas e suíços.
"O acordo de colaboração entre a FAPESP e a SNSF, por meio do qual fazemos chamadas conjuntas para o financiamento de pesquisa, tem recebido poucas inscrições. No entanto, é preciso ressaltar que São Paulo e Suíça têm uma colaboração de pesquisa muito maior, pois temos instituições que colaboram diretamente. Portanto, a minha sugestão é fazermos um trabalho para aumentar essas conexões", disse Zago.
Como destacou o diretor científico da Fundação, Marcio de Castro Silva Filho, existe uma flexibilidade para a criação de novas chamadas de proposta. "A FAPESP é muito flexível e estamos dispostos a desenhar chamadas de proposta, programas de pesquisa e parcerias que atendam tanto aos nossos objetivos quanto aos de nossos colegas suíços. Temos muitas oportunidades e modelos de financiamento tanto para a pesquisa básica quanto para a aplicada, além de oportunidades de pesquisa em interação com empresas privadas e governo."
Na reunião, também foram elencados os temas de maior relevância para uma aproximação entre os pesquisadores: astronomia e física, do lado suíço; saúde, biodiversidade e odontologia, do lado paulista.
Vale destacar que o maior acelerador de partículas do mundo, o Large Hadron Collider (LHC), do Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire (Cern), está instalado em solo suíço. No Brasil, a construção do Sirius, um acelerador de partículas de última geração, está sendo finalizado no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas.
Antes mesmo de sua conclusão, pesquisadores financiados pela FAPESP têm utilizado as estações do Sirius. Aliás, o primeiro experimento realizado no equipamento foi executado por integrantes do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), um CEPID, e teve como objetivo buscar um potencial fármaco para o tratamento da COVID-19 (leia mais em: https://agencia.fapesp.br/34396/).
"Vejo que vocês são pragmáticos e nós gostamos de trabalhar desse modo na Suíça. Acredito que temos muito potencial. Gostaria de destacar um interesse especial em firmar parcerias com os pesquisadores que atuam no Sirius", ressaltou Michael Hengartner, presidente do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça (ETH).