Durante o evento, foram apresentados resultados preliminares do projeto Conexão Mata Atlântica – uma iniciativa do MCTI apoiada pela FAPESP. Dados podem contribuir, por exemplo, para melhorar a gestão de unidades de conservação e orientar pagamentos por serviços ambientais (imagem: reprodução)
Publicado em 17/08/2021
André Julião | Agência FAPESP – Resultados preliminares de um projeto intitulado Conexão Mata Atlântica – cuja missão é gerar subsídios para a formulação de políticas públicas voltadas à conservação desse bioma – foram apresentados em um workshop on-line realizado no dia 11 de agosto.
O projeto é uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) financiada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que administra o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês). Conta com parceiros nos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo – neste último por meio da FAPESP e da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sima).
Foram apresentadas no evento pesquisas contempladas na primeira chamada do projeto, realizada em 2018. A segunda chamada permanecerá aberta até 3 de setembro de 2021. Em ambas, a região de atuação é o chamado corredor sudeste da Mata Atlântica do Brasil, área da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul.
“O Vale do Paraíba é uma região onde houve um processo de desenvolvimento muito grande na fase do café e depois um desenvolvimento industrial. É, portanto, uma área bastante alterada pela presença humana e seria muito interessante que pudéssemos desenvolver um projeto que olhasse para os fragmentos de Mata Atlântica e as possibilidades de restaurar a vegetação nativa reconectando fragmentos, protegendo recursos hídricos, estocando carbono e aumentando a capacidade de conservação de biodiversidade na região. Essa é a razão pela qual essa área geográfica foi estabelecida”, explicou Carlos Alfredo Joly, coordenador do Programa BIOTA-FAPESP e moderador do evento.
“É preciso destacar a relevância das ações conjuntas que a FAPESP vem empreendendo entre os programas, em particular o BIOTA e o Programa FAPESP de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais [PFPMCG]. Isso se alinha bastante à urgência do desenvolvimento científico integrado e interdisciplinar, em particular na busca de soluções aos sistemas sociais e naturais frente a esse universo das mudanças climáticas e seus enormes impactos”, afirmou Jean Ometto, membro da coordenação do PFPMCG, durante a abertura.
“O projeto Conexão Mata Atlântica tem como objetivo recuperar e preservar serviços ecossistêmicos associados à biodiversidade e à captura de carbono da floresta com base na abordagem de manejo florestal sustentável para produzir múltiplos benefícios, especialmente benefícios de captura e manutenção de estoques de carbono relacionados ao uso da terra, mudança do uso do solo e silvicultura e da biodiversidade”, explicou Cláudia Morosi Czarneski, do MCTI.
Para Helena Carrascosa, da Sima, o Conexão Mata Atlântica é um grande laboratório para a formulação e teste de políticas públicas.
“O fato de ser acompanhado por projetos de pesquisa que olham o que está sendo feito e o que pode ser realizado com base nessa experiência é algo muito importante”, disse a gestora, que realizou sua apresentação juntamente com Claudette Hahn, da Fundação Florestal.
Entre os projetos executados no Estado, tiveram destaque os relacionados a pagamentos por serviços ambientais, apoio à certificação e a cadeias de valor sustentável e à melhoria da gestão de unidades de conservação.
Árvores e onças
Katia Ferraz, professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), apresentou o projeto “Padrões de diversidade biológica e coexistência humano-fauna: componentes que sustentam os serviços ecossistêmicos”. O objetivo é entender como a diversidade biológica sustenta os serviços ecossistêmicos e quais os custos e benefícios associados à biodiversidade, considerando tanto os serviços quanto os conflitos decorrentes das interações entre as pessoas e a fauna.
“Alguns resultados já publicados mostram uma defaunação [perda de fauna] de 56,5% para os neotrópicos e de pouco mais de 70% para a Mata Atlântica. E os grupos mais ameaçados são predadores de topo, carnívoros e herbívoros de grande porte, o que certamente impacta a prestação de serviços ecossistêmicos para nossa área de estudo. Também temos resultados mostrando a consequência da defaunação. As perdas implicam uma redução de 30% de serviços ecossistêmicos, podendo chegar a pouco mais de 70% e até mesmo zerar a prestação de alguns serviços, como ecoturismo”, explica Ferraz (leia mais em: agencia.fapesp.br/34561).
A pesquisadora Maria Teresa Vilela Nogueira Abdo, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), coordena um projeto para compreender o crescimento e o rendimento de espécies arbóreas nativas, a fim de entender quais podem ser mais interessantes para o cultivo por agricultores tanto para aumentar a penetração da água no solo como para oferecer uma fonte adicional de renda.
“Estamos determinando parâmetros inéditos para espécies nativas, como macaúba e juçara”, disse a cientista, que tem ainda como foco a capacitação de atores locais para fazerem as medições.
Laura de Simone Borma, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), também está interessada na relação entre água e árvores. Uma das metas é determinar a relação entre taxa de transpiração e crescimento da biomassa para espécies da Mata Atlântica.
Colher dados que possam ser utilizados como base para políticas públicas de conservação e restauração de florestas também é um dos focos do projeto “ELOS: ampliando as conexões: das relações dose-resposta à governança dos serviços ecossistêmicos na Mata Atlântica”, coordenado por Wilson Cabral de Sousa Júnior, pesquisador do Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA).
A íntegra do evento está disponível no YouTube em: https://youtu.be/hSp-UFXAuo4.
Os detalhes para a nova chamada de projetos podem ser conferidos em: https://fapesp.br/14963/nova-chamada-de-propostas-fapesp-e-global-environment-facility-gef.